domingo, 9 de outubro de 2011

Catequese do Papa: “Tu estás comigo” é nossa certeza





Queridos irmãos e irmãs:

Dirigir-se ao Senhor na oração implica em um ato de confiança, com a consciência de entregar-se a um Deus que é bom, “misericordioso, lento à ira, rico em amor e fidelidade” (Ex 34,6-7; Sal 86,15; cf. Jl 2,13; Gn 4,2; Sal 103,8; 145,8; Ne 9,17). Por isso, hoje eu gostaria de refletir com vocês sobre um salmo impregnado de confiança em sua totalidade, no qual o salmista expressa sua serena certeza de que é guiado e protegido, posto a salvo de todo perigo, porque o Senhor é o seu pastor. Trata-se do Salmo 23 (segundo a tradição greco-latina, número 22), um texto familiar para todos e amado por todos. “O Senhor é o meu pastor, nada me falta”: assim começa esta bela oração, evocando o ambiente nômade do pastoreio e a experiência de conhecimento recíproco que se estabelece entre o pastor e as ovelhas que compõem o seu pequeno rebanho. A imagem recria uma atmosfera de confiança, intimidade, ternura: o pastor conhece as suas ovelhas, uma a uma, chama-as pelo seu nome e elas o seguem porque o reconhecem e se fiam dele (cf. Jn 10,2-4). Ele cuida delas, protege-as como bens preciosos, está preparado para defendê-las, para garantir seu bem-estar, para fazê-las viver em tranquilidade. Nada pode faltar-lhes se o pastor está com elas. A esta experiência se refere o salmista, chamando Deus de seu pastor e deixando-se guiar por Ele rumo a campos seguros:
“Ele me faz descansar em verdes prados,
a águas tranquilas me conduz.
Restaura minhas forças,
guia-me pelo caminho certo,
por amor do seu nome.” (vv. 2-3)
A visão que se abre aos nossos olhos é o dos prados verdes e fontes de água límpida, oásis de paz rumo aos quais o pastor acompanha seu rebanho, símbolos de lugares de vida aos quais o Senhor conduz o salmista, que se sente como as ovelhas recostadas no campo, ao lado de um manancial, em situação de repouso, não em tensão ou em estado de alarme, mas confiadas e tranquilas, porque o lugar é seguro, a água é fresca e o pastor vela por elas. Não nos esqueçamos de que a cena evocada pelo salmo está ambientada em uma terra em grande parte desértica, tostada pelo sol abrasador, onde o pastor semi-nômade do Oriente Médio mora com o seu rebanho nas estepes áridas que se estendem ao redor dos povoados. Mas o pastor sabe onde encontrar capim e água, essenciais para a vida, sabe guiar em direção ao oásis, onde a alma se “refresca” e é possível recuperar as forças e extrair novas energias para retomar o caminho.
Como diz o salmista, Deus o guia a “verdes prados” e “águas tranquilas”, onde tudo é abundante, onde tudo se dá copiosamente. Se o Senhor é o pastor, inclusive no deserto, lugar de carestia e de morte, não diminui a certeza de uma radical presença de vida, até o ponto de se poder dizer: “Nada me falta”. O pastor, de fato, tem no coração o bem do seu rebanho, adapta seus próprios ritmos e suas próprias exigências às das suas ovelhas, caminha e mora com elas, guiando-as por caminhos “certos”, isto é, adaptados a elas, com atenção às suas necessidades e não às próprias. A segurança do seu rebanho é a sua prioridade e a isso obedece a sua orientação.
Queridos irmãos e irmãs, também nós, como o salmista, se caminharmos seguindo o “Bom Pastor”, ainda que possam parecer difíceis, tortuosos ou longos os caminhos da vida, inclusive muitas vezes em regiões desérticas espiritualmente, sem água e com um sol de racionalismo abrasador, sob a orientação do Senhor deveremos estar seguros de que estes são os “certos” para nós e de que o Senhor nos guia, está sempre perto de nós e de que não nos faltará nada. Por isso, o salmista pode declarar uma tranquilidade e uma segurança sem dúvidas nem preocupações:
“Se eu tiver de andar por vale escuro,
não temerei mal nenhum,
pois comigo estás.
O teu bastão e teu cajado me dão segurança.” (v. 4)
Quem caminha com o Senhor nos vales escuros do sofrimento, das dúvidas e de todos os problemas humanos, sente-se seguro. “Tu estás comigo”: esta é a nossa certeza, a que nos sustenta. A escuridão da noite dá medo, com suas sombras mutáveis, a dificuldade de distinguir os perigos, seu silêncio cheio de barulhos indecifráveis. Se o rebanho se mover depois do pôs do sol, quando a visibilidade não é boa, é normal que as ovelhas se inquietem, pois existe o risco de cair, afastar-se ou perder-se, e também há o temor de possíveis agressores que se escondem na escuridão. Para falar do vale “escuro”, o salmista usa uma expressão hebraica que evoca as trevas da morte; portanto, o vale que precisamos atravessar é um lugar de angústia, de ameaças terríveis, de perigos de morte. No entanto, o orante caminha seguro, sem medo, porque sabe que o Senhor está com ele. Esse “comigo estás” é uma declaração de confiança inquebrantável, que resume uma experiência de fé radical; a proximidade de Deus

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