sexta-feira, 20 de julho de 2012

Dom Leonardo trata de temas relevantes para o Brasil em entrevista à Folha de São Paulo




Fonte: CNBB

Secretário geral da CNBB, dom Leonardo Steiner, conversou, nesta quarta-feira, 18 de julho, com o jornalista da Folha de São Paulo e da TV UOL, Fernando Guimarães sobre vários assuntos relevantes do momento político e social que o Brasil se encontra. Confira a íntegra da entrevista que foi publicada nesta quinta-feira pelo jornal paulista.

Leia abaixo transcrição da entrevista.
Narração de abertura: Dom Leonardo Ulrich Steiner tem 61 anos. É o secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a CNBB, e também é bispo auxiliar de Brasília. Dom Leonardo nasceu em Forquilhinha, em Santa Catarina. Entrou para a Igreja Católica em 1972 na Ordem dos Frades Menores, fundada por São Francisco de Assis. Em 2005, dom Leonardo substituiu dom Pedro Casaldáliga como bispo de São Félix do Araguaia, no Mato Grosso. Em 2011 foi eleito secretário-geral da CNBB e mudou-se para Brasília. Cabe a ele se pronunciar em nome da entidade. Em 2012, por conta das eleições, dom Leonardo deverá emitir opiniões dos bispos sobre temas importantes para o mundo da política.

Folha/UOL: Olá internauta. Bem-vindo a mais um "Poder e Política - Entrevista".

Este programa é uma realização do jornal Folha de S.Paulo e do portal UOL. E a gravação é sempre realizada aqui no estúdio do Grupo Folha em Brasília. O entrevistado desta edição do Poder e Política é dom Leonardo Steiner, secretário-geral da CNBB.

Olá, Dom Leonardo. Muito obrigado pela sua presença. Eu começo perguntando sobre o dado do censo que foi divulgado recentemente a respeito da perda de fiéis da Igreja Católica na última década. A Igreja Católica perdeu, segundo o censo, 1 milhão e 670 mil fiéis do ano 2000 até 2010. Nesse período, em contrapartida, as igrejas evangélicas ganharam, aproximadamente, 16 milhões de novos fiéis. Como o sr. e a CNBB avaliam esses dados?

Dom Leonardo: Em primeiro lugar, obrigado pelo convite e pela oportunidade de estar aqui com vocês e, ao mesmo tempo, estar em contato com tantos internautas. Que Deus abençoe a todos vocês, o trabalho e o serviço que prestam à nossa sociedade, ao Brasil.

Nós, em primeiro lugar, nos questionamos sobre o método usado [pelo censo]. Nós não sabemos o método da pesquisa e isso é muito importante para nós. Isso não quer dizer que não nos preocupamos com os dados que chegaram às nossas mãos e que foram publicados. Os dados são importantes. Os dados mostram uma realidade. Só gostaríamos de poder ter mais elementos para podermos fazer uma boa análise. Que haja uma perda de fiéis não é uma novidade. Se bem que tenha diminuído muito, tenha diminuído muito as saídas. Por outro lado, nós sabemos também que muitos que têm deixado a Igreja Católica não são pessoas ativas dentro da Igreja Católica. Não são aquelas pessoas que participam ativamente das nossas comunidades, que participam das nossas celebrações, que participam dos serviços dentro da Igreja. Por outro lado, nós temos também o dado nosso, da nossa pesquisa.

Folha/UOL: Qual é ele?

Dom Leonardo: Do anuário católico. Que ele tem mostrado o crescimento do número de paróquias. Você só aumenta paróquias se há um aumento de fiéis. Nós temos um dado do IBGE em relação à população brasileira. Mas o anuário católico mostra que nós temos também um aumento no número de fiéis ligado aos filhos que vêm, eles são batizados, eles participam da vida da Igreja. Não só no número de paróquias, mas nós temos um aumento de dioceses. Nós fomos de 18 mil, em torno de 18 mil sacerdotes. E hoje nós temos em torno de 22 mil.

Folha/UOL: De quando para quando?

Dom Leonardo: Isso são agora, nos últimos quatro anos, essa mudança. Ela é muito significativa.

Folha/UOL: De 18 mil para 22 mil?

Dom Leonardo: 22 mil nos últimos dez anos. Esse é um dado muito significativo. Então, o que, digamos assim, preocupa mais a CNBB e a Igreja Católica é o número de pessoas que se dizem sem religião. Isso preocupa mais. Isso porque alguém que se diz sem religião, ele tem outra perspectiva, tem outro horizonte de leitura da própria existência.

E depois, também, a migração que nós sentimos de uma igreja evangélica para outra, porque esse fenômeno não é só da Igreja Católica, mas de todas as igrejas chamadas "históricas". Esse fenômeno de saída. Mas, eu creio que isso tudo tem nos levado também a um espírito missionário muito maior dentro da própria Igreja Católica.

Folha/UOL: No caso do censo do IBGE, o sr. acredita que os números, pelo que o sr. está dizendo, possam não ser exatamente esses, é isso?

Dom Leonardo: Porque não são todas as residências visitadas. Nós, da CNBB, não fomos visitados. Então, nós sabemos que se visita um determinado número de residência e depois se faz um determinado cálculo. Então esse dado nós gostaríamos de ter em mãos para podermos ter, assim, isso até nos ajudaria muito na avaliação desses dados e mesmo, também, de como nós... refletirmos, de como estudarmos e, mesmo talvez, como projetar alguma ação evangelizadora.

Folha/UOL: Mas o sr. concebe que, de fato, deve ter ocorrido uma redução do número de fiéis da Igreja Católica nesses últimos dez anos?

Dom Leonardo: Em relação à população brasileira, sim.

Folha/UOL: Foi a primeira vez a rigor... Porque o censo, é claro que sempre há algumas residências que não são visitadas, é uma pesquisa, é um levantamento muito amplo. Foi a primeira vez que o censo apontou uma queda no número de católicos no país. Então, em certa medida, tem uma metodologia que vem sendo seguida há décadas e a expectativa, segundo os dados projetados pelo censo, é que talvez em 20 ou 30 anos a maioria dos brasileiros tenha preferência pelas religiões evangélicas. O sr. acredita que essa projeção é correta?

Dom Leonardo: Não acredito que isso aconteça. Nós teremos o fenômeno, que nós chamamos, muitas vezes, de um fenômeno europeu. Nós temos o fenômeno que alcança as grandes cidades no Brasil que é o número crescente de pessoas que se dizem sem religião. Esse é um fenômeno, na Europa, marcante. A Igreja lá tem refletido e tentado enfrentar essa questão. E nós, certamente, no Brasil, cresceremos nessa linha. Mas eu sinto também que a CNBB, com as suas diretrizes de evangelização, foi a primeira conferência episcopal a pensar uma estratégia, pensar diretrizes, pensar em um plano de pastoral. Ela também saberá enfrentar esse momento e nós temos tido, tivemos agora o terceiro Congresso Missionário em Palmas, semana passada, e foi impressionante a participação dos leigos. Hoje, nós temos no Brasil, graças à Deus, uma igreja onde os leigos são muitos ativos. E os leigos se sentem protagonistas como missionários, como missionárias, as visitas às famílias, a leitura da palavra de Deus. Então não creio que, no futuro, a maioria seja evangélica. Nós chegaremos a uma estabilidade. Mas o fenômeno europeu também chegará ao Brasil. Nós sabemos disso.

Folha/UOL: Nos números aqui, de acordo sempre com o censo do IBGE, em 1980, 89% dos brasileiros se diziam católicos. Hoje seriam 64%. E os evangélicos hoje estão, segundo censo sempre, com 22%. O sr. acredita que, então, o sr. acabou de me dizer não deve haver é esse avanço daqueles que tem preferência pelas denominações evangélicas? Acredita que agora há uma estabilização?

Dom Leonardo: Nem mesmo porque, também, os dados tem mostrado que algumas dessas igrejas evangélicas já tem perdido um grande número de pessoas também.

Folha/UOL: Quais, o sr. diria, são as medidas principais que a Igreja Católica toma, ou deveria tomar, para evitar que ocorra uma perda maior de fiéis?

Dom Leonardo: A preocupação principal não deveria ser em termos de perda, de número. Nós nos preocupamos não apenas com a perda de número, mas com perda de pessoas. Quer dizer, se numa família falta alguém à mesa, nós sentimos falta. Eu creio que esse elemento dentro da Igreja Católica deveria pesar muito. Nós batizamos. Eles fizeram parte da nossa comunidade, ao menos pelo batismo, muitas vezes também pela crisma e, depois, deixaram a mesa da família onde nasceram. Então isso nos preocupa. Mas eu penso que as últimas diretrizes da ação evangelizadora já indicam um pouco o caminho que nós deveríamos percorrer. Em primeiro lugar, lá nós elencamos cinco urgências e a primeira urgência colocada é que nós deveríamos ser uma igreja mais missionária. Uma igreja que não pode mais ficar só esperando os seus fiéis. Uma igreja que precisa sair. Uma igreja que precisa ir ao encontro das pessoas. Uma igreja que visita as famílias, Uma igreja que vai ao encontro das pessoas nos hospitais, nas prisões. Uma igreja cada vez mais envolvida também com as pessoas de rua. As pastorais sociais terem mais força do que já tem. As nossas pastorais sociais tem uma força muito grande, mas creio que ainda poderíamos ser muito mais engajados nesse sentido. E um elemento muito importante é, segundo a urgência que é ali colocada, é a iniciação a vida cristã. Eu creio que nós, como Igreja Católica, preparávamos as pessoas para a primeira eucaristia, para a crisma. A tônica colocada de não prepararmos para uma iniciação à vida sacramental, mas à vida cristã. O que significa, realmente, viver como viveu Jesus Cristo. O que significa dar testemunho de Jesus Cristo. O que significa anunciar o Reino de Deus. Eu creio que aqui nós temos dois elementos muito importantes que nos ajudarão no futuro a sermos uma igreja mais ativa e também, até diria assim, conforme nós estamos celebrando os 50 anos do Concílio, mas uma igreja, conforme o Concílio, muito atuante dentro da realidade social em que nós vivemos.

Folha/UOL: Um aspecto muito visível da Igreja Católica para a população geral tem sido a atuação dos chamados "padres cantores" ou "artistas" como Fábio de Melo, da Ordem do Sagrado Coração, Marcelo Rossi, da Renovação Carismática. O sr. acha que eles contribuem para a inserção da Igreja Católica na sociedade e, se sim, como?

Dom Leonardo: Eu não diria que seria uma inserção na sociedade. Ajuda a visibilizar, digamos assim, a Igreja Católica. Ajuda a mostrar o rosto da Igreja Católica no sentido de que um padre também pode ser cantor e, através do canto, levar a mensagem do Evangelho, testemunhar o Evangelho. Os padres, que às vezes até chamamos de "padres midiáticos", eles ajudam a evangelizar celebrando nas comunidades. Muitos dos cantos deles são também cantados nas nossas comunidades. E também, digamos assim, certos momentos da Igreja em que existe um grande número de pessoas reunidas. Eu não quero usar a palavra massa porque ela não é conveniente nesse caso, porque é sempre uma assembleia. Quando é uma missa é sempre uma assembleia que se reúne, não é uma massa, não é um aglomerado, apenas, de pessoas. Isso também ajuda. São manifestações públicas que nós somos uma Igreja. Uma manifestação de um número maior de pessoas, como no caso aqui de Brasília que fizemos no Corpus Christi, na festa de Nossa Senhora de Aparecida. Isso visibiliza um pouco e também nós sentimos que traz um ânimo para as pessoas que pertencem à Igreja Católica.

Folha/UOL: Um aspecto do ponto de vista comportamental, social, sempre mencionado a respeito da Igreja Católica é que a sociedade vem demandando atitudes mais liberais e a Igreja Católica tem seus dogmas, suas crenças, suas posições e não abre mão delas. O sr. imagina que pode haver flexibilização no futuro ou a Igreja Católica vai se manter ainda por muitos anos como sempre esteve a respeito de aborto, uso de contraceptivos e, por exemplo, casamento entre pessoas do mesmo sexo?

Dom Leonardo: A Igreja sempre tem procurado compreender a sua ação a partir do Evangelho. A Igreja, e a própria CNBB, não tira da sua própria cabeça alguns elementos. Ela se deixa inspirar no Evangelho. O Evangelho sempre será o Evangelho da vida. Então, assuntos como, por exemplo, o aborto e a eutanásia não têm como nós voltarmos atrás e fazermos concessões. Nós temos a nítida sensação que com o passar do tempo, todas essas questões que devagar querem fazer entrar, fazem com que o ser humano se torne descartável. Então a finitude humana não quer mais ser abraçada. A finitude humana significa também ter um filho excepcional, [o que] traz dificuldades. Então nós estamos muitas vezes assim, na propensão hoje, do descarte de tudo aquilo que não é do meu agrado, que não é da minha concepção, que não facilita, digamos assim, as minhas relações e, com isso, também, muitas vezes descartar essas dificuldades, essa finitude humana nos leva a viver de uma maneira que não matura. Nós sabemos pelo cristianismo e nós pregamos também Jesus Cristo crucificado e ressuscitado que a finitude humana que nos matura como pessoas. Os embates da vida que nos maturam como pessoas. Não é uma vida que vamos levando de qualquer jeito que nos matura. Então, esse debate, apesar de muitas vezes sermos acusados de não sermos modernos o suficiente, eu muitas vezes me pergunto: Que modernismo é esse que começa a descartar a pessoa humana, especialmente onde existe mais limite?

Folha/UOL: Tem um aspecto específico que é com relação a contraceptivos, que antes eram só contraceptivos e hoje também são instrumentos de saúde pública, sobretudo para grupos de risco de contrair Aids. Nesses casos dos contraceptivos qual é a posição atual da Igreja Católica aqui no Brasil?

Dom Leonardo: Nós temos uma declaração muito importante do santo padre a respeito disso, falando da necessidade de saber distinguir de quando realmente existe o que você chama de grupo de risco. Então esses contraceptivos seriam possíveis. O que a Igreja sempre defende é que não se pode sempre usar contraceptivos sem mais e sem menos porque as relações, elas precisam sempre estar abertas à vida. Sempre abertas à vida. E depois também muitas vezes os contraceptivos são colocados em relação a uma não facilitação das relações, sejam as relações mais íntimas, que são as relações mais afetivas, como são as relações sexuais. Elas também precisam de respeito, elas precisam também do seu tempo. Então muitas vezes se quer facilitar o prazer simplesmente pelo prazer e às vezes os contraceptivos vão pouquinho nessa linha. Mas em relação aos grupos de risco, no sentido do cuidado da pessoa humana, tem uma declaração do santo padre muito interessante. Até se fez um alarde nos meios de comunicação dizendo que o papa agora seria a favor. Mas era justamente colocando essa questão da vida humana de novo, da saúde humana, da pessoa humana como um todo.

Folha/UOL: Queria falar um pouco de política com o sr. como tem sido a relação da CNBB, da Igreja Católica, com a presidente Dilma Rousseff?

Dom Leonardo: Uma relação, diria, normal. Uma relação de muita liberdade. A presidente tem nos dado muita liberdade de dizer o que pensamos. Isso é sinal de maturidade. A CNBB não tem se furtado em levar ao governo os problemas. Também não tem se furtado de dizer o que pensa através das notas. Mas também, na interlocução do governo, nós temos procurado levar a questão, por exemplo, a questão indígena, a questão da violência, a questão em relação às famílias, a questão dos jovens. Mas a presidente tem nos dado muita liberdade e creio que existe um respeito. E também da própria presidente nós sentimos um desejo de nos ouvir. Eu creio que é uma relação de respeito, uma relação madura.

Folha/UOL: O sr. assumiu seu posto na CNBB recentemente, em 2011. Mas seria possível comparar como era a relação da Igreja Católica com governos e presidentes anteriores? Se melhorou, piorou ou está igual?

Dom Leonardo: Eu não saberia fazer essa avaliação. Mas, a sensação que eu tenho... Também não sou bispo há tempo, né? Eu sou bispo, agora, há oito anos. A sensação que eu tenho é que os governos sempre procuraram ouvir a CNBB. E a CNBB nunca se furtou de levar ao governo as questões das populações, sejam elas indígenas, dos quilombolas, dos ribeirinhos. Mas há outras questões também sociais que dizem a respeito da população brasileira. E às vezes até com notas que alguns consideram um pouco duras. Mas faz parte. Eu tenho a impressão que no período que estamos vivendo de democracia, os governos tem procurado ouvir. Naturalmente, nós sentimos também, não quer dizer isso no primeiro escalão, mas temos sentido também alguma dificuldade de relação, dada a questão que se chama, tem se dado o nome de "o Estado laico". Dizer que a Igreja não deve interferir em determinados...

Folha/UOL: O sr. tem sentido uma dificuldade de que ordem?

Dom Leonardo: Às vezes, a nível, por exemplo, de participação nossa nos conselhos. O sr. sabe que a CNBB participa em diversos conselhos, tem seus representantes, por exemplo, na [área da] saúde nós temos representante, a CNBB tem representante. E nem sempre aquilo que nós não estamos lá para fazer uma pregação, digamos assim. A nossa participação como CNBB, é claro, a partir dos princípios do Evangelho, é ajudarmos a melhorar a saúde da população, melhorar a segurança da população, darmos uma assistência maior.

Folha/UOL: Mas há algum impedimento para que a CNBB participe?

Dom Leonardo: Existe uma espécie de resistência, sim. De que não é muito tarefa religiosa ou uma tarefa da Igreja.

Folha/UOL: Isso, por parte, o sr. está dizendo, o sr. citou o caso da saúde. No caso do Ministério da Saúde, seria?

Dom Leonardo: Não. No Ministério da Saúde, graças a Deus, somos muito bem recebidos.

Folha/UOL: Seriam em alguns conselhos, é isso?

Dom Leonardo: Em um ou outro conselho.

Folha/UOL: O sr. poderia citar especificamente?

Dom Leonardo: Isso não é muito conveniente [risos]..

Folha/UOL: Mas tem havido isso?

Dom Leonardo: Eu sinto isso. Eu sinto uma certa resistência, sim.

Folha/UOL: Isso seria o quê? Do governo como um todo?

Dom Leonardo: Não, não sinto que seja do governo porque a interlocução que temos tido com os srs. ministros tem sido muito positiva. Nenhum ministro se recusou a me receber, por exemplo, quando eu pedi audiência. E mesmo nós temos ministros que têm vindo aos encontros, às reuniões da CNBB para debater.

Folha/UOL: Será que a CNBB não deixou passar muito tempo em relação a ter uma presença mais marcante na política. Por que eu pergunto isso? Algumas igrejas apressaram-se e hoje têm partidos que são muito relacionados a elas, sobretudo as igrejas evangélicas. É notória, por exemplo, a ligação da Igreja Universal do Reino de Deus com o partido PRB [Partido Republicano Brasileiro], uma relação muito próxima, são muito ligados. Agora apareceu um novo partido, o 30º que é o Partido Ecológico Nacional e que também tem uma relação próxima com uma igreja. A CNBB e Igreja Católica deveriam ter uma atuação mais direta na política, na sua opinião?

Dom Leonardo: Nós temos uma atuação muito política. Nós temos na CNBB, inclusive, uma Escola de Fé e Política para prepararmos os leigos. Agora, a CNBB nunca vai querer fundar um partido. Nós acreditamos que nossos irmãos que professam o Evangelho, que aceitam o Evangelho e que vivem na Igreja Católica, eles serão as pessoas que podem levar ao Congresso Nacional e mesmo em outras instâncias no Judiciário, por exemplo. Também, nós temos muitas pessoas que são da Igreja Católica e defendem os princípios. Nós pensamos muito mais nesse tipo de presença do que de partido político. Partido político começa muitas vezes a reivindicar para si alguns elementos. Eu penso que o Evangelho é muito mais abrangente do que um partido político. A Igreja Católica é muito mais abrangente. Ela poderia, como partido político, começar a trabalhar em benefício de si mesma ou CNBB em benefício de si mesma, direito para si mesma.

Folha/UOL: O sr. acha que isso ocorre, talvez, com esses outros partidos?

Dom Leonardo: Eu não poderia fazer essa análise, mas às vezes, dada uma ou outra declaração, temos um pouco essa impressão.

Folha/UOL: Recentemente houve uma polêmica sobre uma proposta que o Governo teria de vetar o aluguel de espaço em emissoras de televisão. Esse aluguel de espaço que é, em geral, muito usado por várias igrejas. As igrejas evangélicas protestaram. Para a Igreja Católica faria alguma diferença?

Dom Leonardo: Nós não protestamos assim como fizeram as igrejas evangélicas, mas também demonstramos a nossa posição. Quer dizer, nós temos essas emissoras, elas são estatais, mas nós não podemos esquecer que elas são da sociedade. O que é um Estado? O Estado, pelo Estado, não existe. O Estado só existe porque existem pessoas. Quer dizer, o Estado existe porque existe uma população. Então essa vontade de querer garantir ao Estado está garantindo a quem, de novo? Está, às vezes, a um determinado grupo que pensa o Estado daquela forma. Então, nesse sentido que nós também acabamos nos pronunciando, nos manifestando não assim, publicamente, com essa veemência toda.

Folha/UOL: Dom Leonardo, e essas eleições municipais deste ano 2012 que ocorrem agora em outubro? A CNBB planeja se manifestar de alguma forma a respeito de como os seus fiéis devem atuar nessas eleições?

Dom Leonardo: Nós já nos manifestamos na nossa assembleia celebrada em Aparecida [SP]. Nós emitimos uma nota até bastante longa e temos também um pequeno subsídio de orientação que não foi publicado diretamente pela CNBB mas pela Escola de Fé e Política da CNBB.

Folha/UOL: Como o sr. resumiria a diretriz da CNBB a respeito das eleições municipais deste ano?

Dom Leonardo: Votem em ficha limpa. Votem em ficha limpa. Foi uma longa batalha, na qual a CNBB se engajou, a Igreja toda se engajou, tantos seguimentos da sociedade se engajaram. Diversos organismos se engajaram. Nós não podemos voltar atrás, nós sabemos que as eleições municipais, elas são sempre mais tensas, são mais localizadas, elas são naquele âmbito mais familiar, mais próximo. Então normalmente as eleições municipais elas são mais disputadas, são mais tensas e também por nossa parte existe o desejo de darmos uma orientação da boa escolha daqueles que hão de cuidar do município, hão de cuidar da nossa cidade.

Folha/UOL: Embora sejam eleições municipais, às vezes aparecem temas nacionais nessas eleições. Temas como, por exemplo, surgiram na eleição passada, que era mais ampla: aborto, casamento entre pessoas do mesmo sexo devem fazer parte também do debate das eleições municipais?

Dom Leonardo: Deve fazer parte do debate das eleições municipais sempre aquilo que diz respeito à pessoa humana, ao direito da pessoa humana, ao cuidado da pessoa humana. Isso sempre deve entrar. Deve entrar no debate também o respeito à pessoa humana, então [deve entrar] a questão da corrupção. A questão da ficha limpa. Inclusive, é um desejo do Tribunal Eleitoral [do Tribunal Superior Eleitoral] fazermos um trabalho em conjunto neste ano alertando a população para que realmente vote bem, não deixe comprar o seu voto, que é um elemento importante, não deixar comprar o voto. Não vender o voto. [Não] vender a dignidade. Esses elementos, porque dizem respeito à pessoa humana, sempre terão que entrar no debate [das eleições].

Folha/UOL: É legítimo que um candidato a prefeito de uma cidade também apresente como tema de discussão, se ele ou seus adversários, têm posições a respeito de liberalizar o aborto, por exemplo?

Dom Leonardo: Sempre o debate ele tem que ser livre. As pessoas podem e devem ter o direito de expressar suas concepções. O que infelizmente acontece muitas vezes é que os candidatos realmente não expressam suas posições e concepções, o que não ajuda o eleitor. O que não ajuda o eleitor. Ajuda muito o eleitor quando ele coloca as questões, se ele coloca a questão do aborto, se ele coloca a questão da corrupção. Mas não só para o momento para angariar voto, mas como uma questão realmente política, como o cuidado pela cidade... A palavra "polis" do grego, política. Esse cuidado pela população. Então eu penso que seria muito positivo que os candidatos colocassem também as suas ideias quanto a isso, e os eleitores, ao menos os católicos, sabem [quais são] as orientações dadas pelos bispos, pela Igreja Católica.

Folha/UOL: Em 2010 foi um debate muito acalorado a respeito de temas como esse na disputa presidencial. A então candidata Dilma Rousseff, agora presidente da República, se manifestou, fez compromissos com grupos religiosos, inclusive com a Igreja Católica. Ao longo do governo dela agora, que já tem mais de um ano e meio, alguns grupos religiosos acham que ela não está seguindo exatamente aquilo que prometeu durante a campanha. Qual é a sua opinião?

Dom Leonardo: Abertamente, não tem aparecido essa questão. Ela [a presidente] não tem se pronunciado abertamente. Naturalmente, a CNBB estranhou quando foi nomeada a ministra para os...

Folha/UOL: Secretaria Especial das Mulheres. Eleonora Menicucci.

Dom Leonardo: Isso. Nós estranhamos. Houve, inclusive, manifestação de um ou outro bispo. Nós, como CNBB, nos manifestamos através de uma carta dirigida à presidente. Em público, não tem aparecido. O que tem aparecido é o que foi decidido agora pelo Supremo [Supremo Tribunal Federal] da questão dos anencéfalos. E está parecendo essa questão em relação ao Código Penal. Então nós continuaremos a nos manifestar como CNBB como sempre nos manifestamos a favor da vida. No futuro, muito no futuro, certamente haverão de reconhecer de que a CNBB defendeu aquilo que é de mais precioso: a pessoa humana desde o início até ao fim.

Folha/UOL: Sobre a atuação específica da presidente Dilma Rousseff. Ela deveria ser mais proativa a respeito desses temas e ter uma posição mais conhecida? Uma ação mais específica?

Dom Leonardo: Talvez nós gostaríamos que assim fosse. Agora, não sei se a tarefa de alguém que hoje está à frente da nação brasileira, como governo, como presidente está se manifestando muito a respeito porque ela é presidente de toda uma população. Ela é a presidente do Brasil. E nós sabemos da diversidade de pensamentos que existem. Então, o que nós podemos dizer das conversas que tivemos com ela é de um respeito muito grande pela vida. E nós sabemos também que, internamente, do governo também existem as tensões que são normais.

Folha/UOL: O sr. mencionou a decisão recente do Supremo Tribunal Federal autorizando a prática do aborto quando há comprovação de fetos anencéfalos. O Supremo Tribunal Federal tomou uma boa decisão nesse caso?

Dom Leonardo: Nós tivemos a nítida sensação de que começamos a descartar a pessoa humana. E creio que também o enfoque dado não foi um enfoque muito coerente. Por exemplo, de achar que essas crianças já estão mortas no útero materno. Naturalmente, quando a criança morreu no útero materno nós não estamos falando em aborto. Nós só estamos falando em aborto quando a criança é viva, ela está viva. E nós temos experiências muito interessantes de que depois mesmo do parto ainda sobrevivem um determinado tempo. Nós já nos pronunciamos a esse respeito e, inclusive, nos manifestamos em nota e também já estivemos com alguns dos ministros onde depois conversamos com muita liberdade sobre o assunto, com muito respeito.

Folha/UOL: Código florestal: o governo tem, de acordo com a sua compreensão, atuado de maneira correta na condução da aprovação do Código Florestal no Congresso?

Dom Leonardo: Pessoalmente, eu esperava mais do governo. Naturalmente, o jogo político no Congresso não é simples. As forças que ali dentro estão... Não é tão simples. Mas nós, como, CNBB nós gostaríamos que, realmente, nós tivéssemos um Código Florestal.

Código significa um modo de relacionamento com a natureza. Nós teremos leis, mas elas não garantem o nosso futuro. E o pior, no meu modo de ver, não garantem uma relação nova, efetiva, equilibrada com a natureza. Então, a sensação que temos agora, ainda existem muitas discussões, de que provavelmente a proposta do Governo, que foi uma proposta, assim, tentando manter um determinado equilíbrio deve passar, ao menos no Senado. Mas, o Código como está, no meu modo pessoal de ver, agora eu não quero fazer nenhuma afirmação em nome da CNBB, é insuficiente para o nosso futuro.

Folha/UOL: No ano que vem, haverá Jornada Mundial da Juventude, que será no Rio de Janeiro com a presença, inclusive, do Papa Bento XVI. O Brasil está preparado para receber a Jornada Mundial da Juventude, do ponto de vista da infraestrutura do Rio para receber um evento desse porte?

Dom Leonardo: Ainda não está preparada.

Folha/UOL: O que está faltando?

Dom Leonardo: Está faltando... Agora já temos a decisão de onde será a vigília com o santo padre e também a missa com o santo padre. Já está decidido. Precisa agora é criar toda a infraestrutura do local. Já começamos agora no mês de julho as inscrições. Os grupos já podem se inscrever. Só podem se inscrever grupos vindos dos outros países e também do Brasil. O que já está bastante bem organizado é a peregrinação da cruz, que também faz parte do ícone de Nossa Senhora, que faz parte da jornada. Já está caminhando, já há meses, desde o ano passado. Caminhando bastante bem. Bastante bem não, está caminhando muito bem. O Rio de Janeiro e a Arquidiocese do Rio de Janeiro têm feito um esforço muito grande de organizar no Rio de Janeiro porque será organização de hospedagem, de recepção, de transporte. O diálogo entre a diocese do Rio de Janeiro, a Arquidiocese do Rio, o governo estadual e a prefeitura caminha bem. Também com o Governo Federal. Mas ainda existem alguns gargalos, principalmente em relação à infraestrutura, por exemplo, do meio de transporte do Rio até Santa Cruz, onde será a celebração. Naturalmente os jovens andarão alguns quilômetros porque faz parte. A ideia é, realmente, de ser uma peregrinação. Não só uma festa, um encontro. Creio que estamos caminhando muito bem, mas ainda faltam alguns elementos. Mas nós ainda temos um tempo.

Folha/UOL: Isso depende dos governos locais do Rio e da prefeitura do Rio, é isso?

Dom Leonardo: Mas também de ajuda do Governo Federal. Nós sabemos que para Olimpíada e Copa do Mundo nenhum governo estadual ou municipal dará conta, assim também [é] em relação à Jornada.

Folha/UOL: Dom Leonardo Steiner, muito obrigado pela sua entrevista à Folha de S.Paulo e ao UOL.

Dom Leonardo: Eu que agradeço a oportunidade e um bom trabalho.

Agenda cultural movimentará capital carioca durante JMJ Rio2013




A Jornada Mundial da Juventude (JMJ) é feita não somente dos eventos de massa com a presença do Papa Bento XVI, mas também da riqueza histórica e cultural que cada cidade-sede tem a oferecer ao mundo.
Na jornada que acontecerá no Rio de Janeiro, de 23 a 28 de julho de 2013, não será diferente. Representantes de museus e centros culturais se encontraram com o Setor de Atos Culturais do Comitê Organizador Local (COL), na última quarta-feira, 18, para começar a discutir como será a agenda dos peregrinos durante o evento.
Para o arcebispo do Rio e presidente do COL, Dom Orani João Tempesta, esse é um momento de investir na juventude que tem muito a oferecer à sociedade: “Falar da Jornada é falar também da questão cultural. Nós sabemos que vamos receber jovens do mundo inteiro e é muito comum que esses jovens que vêm à Jornada queiram voltar depois, em outras épocas de suas vidas, proporcionando um enriquecimento cultural maior à cidade e às suas próprias vidas”.
O diretor do Setor de Atos Culturais, Cônego Marcos William Bernardo, reforçou a importância do convite feito aos diretores de museus para que eles se sensibilizem e entrem no clima da Jornada. “Temos propostas de trazer exposições temporárias durante a semana que o Papa vai estar conosco. Vai ser uma oportunidade dos museus revelarem ao mundo um pouco da nossa cultura, do nosso acervo, da nossa vida, da nossa história. É claro que vai haver uma situação religiosa por trás, mas queremos sim mostrar o nosso jeito de ser, a nossa cara”, afirmou.
O presidente do Ibram (Instituto Brasileiro de Museus), José do Nascimento Junior, ressaltou que a ideia é organizar uma agenda de qualidade, jovem, poderosa e que dialogue com o que o evento suscita. “Esse é, de fato, um evento muito maior do que o que normalmente recebemos. Nem a Copa das Confederações ou a Copa do Mundo vão demandar tanto do circuito cultural do Rio. Vamos apresentar o Rio, o Brasil a jovens do mundo inteiro que têm que levar uma boa impressão das nossas coleções.”

“Não existe verdadeira evangelização que não passe pela cultura”
A programação oficial da Jornada de 2011, realizada em Madri, na Espanha, contou com 363 atos culturais, sendo 33 exposições em 19 museus e 18 palácios reais. Mesmo em período de recesso escolar, em que os moradores costumam sair da cidade, Madri bateu recorde absoluto de público, o que surpreendeu os centros culturais. A expectativa para a JMJ Rio2013 é superar esses números.
Cônego Marcos enfatizou que é importante que o jovem conheça a sua identidade. “Não existe verdadeira evangelização que não passe pela cultura. E cultura nós entendemos como o fazer do homem, não só o belo, o fazer artístico, o estético, mas o agir, o ver. Para essa amostragem cultural, pensamos em atos culturais. Serão 27 palcos espalhados pela cidade, e nós contamos que os estados se façam representar. O jovem dificilmente se abre para uma coisa estranha. Então é preciso ele saber quem ele é para se abrir ao outro, a Cristo.”
O presidente do Ibram falou ainda que o momento é de alegria para as instituições culturais: “Nós somos parceiros da Jornada Mundial da Juventude. Os museus estão se organizando e vão receber esses jovens com muita felicidade, com acolhimento e entusiasmados pela possibilidade de se integrarem à programação oficial. O jovem tem se interessado cada vez mais por aspectos da memória e os museus são os espaços onde divulgar e difundir esse conhecimento. O jovem sabe que não há inovação sem memória, futuro sem memória. Se a gente pensar que a Igreja Católica vive e se fortalece a partir da memória há mais de dois mil anos, o jovem católico vai ter uma consciência forte da programação que será oferecida”.
O representante do Museu da Rocinha e morador da comunidade revelou que está preparando uma exposição com os registros deixados por João Paulo II, em sua visita à Rocinha. “Nós estamos discutindo alguns painéis interessantes para a Jornada, vai ser muito interessante... A reunião de hoje pode mostrar a diversidade da programação que poderá estar acontecendo no ano que vem. Essa grande colcha de retalho cultural vai dar a dimensão da diversidade que nós temos no Brasil e a juventude vai sair daqui mais enriquecida ainda”, disse ele.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Cartaz da CF 2013 é apresentado na Expocatólica .




Foi apresentado na noite de sexta-feira, 6 de julho, na ExpoCatólica, em São Paulo, o Cartaz da Campanha da Fraternidade 2013, que tem como tema “Fraternidade e Juventude”, e lema: “Eis-me aqui, envia-me!” (Is 6,8). Realizada no auditório Cantareira, do Expo Center Norte, a cerimônia contou com a presença de bispos, autoridades civis, sacerdotes, religiosos, jornalistas e empresários.
Para o arcebispo de São Paulo, Cardeal dom Odilo Pedro Scherer, o cartaz faz um apelo ao jovem para um maior envolvimento na CF 2013 e na preparação da Jornada Mundial da Juventude Rio2013. "O cartaz coloca em evidência a jovialidade e a alegria. Existem muitos problemas no mundo, mas os jovens olham para frente. E eles têm o direito de olhar com esperança para o futuro. Eu acredito que a Campanha da Fraternidade será uma grande contribuição para que os jovens recebam uma resposta aos seus sonhos" disse o Cardeal.
Segundo o Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude da CNBB, dom Eduardo Pinheiro da Silva, o tema da CF 2013 reforça a opção da Igreja pela juventude."Tendo como referência a cruz de Jesus Cristo, o cartaz traz, em primeiro plano, uma jovem que demonstra alegria em resp0nder ao chamado que Deus lhe faz. A Igreja acredita nessa disponibilidade da juventude, nessa resposta do jovem que encontra na sua comunidade a abertura, a provocação e a oportunidade para um serviço à Igreja e à sociedade", disse Dom Eduardo.
O diretor geral das Edições CNBB, Padre Valdeir Goulart disse que o lançamento oficial será realizado em agosto, em Brasília, junto com o texto base e os subsídios. "Como o cartaz já estava pronto, porque os bispos o escolheram no mês passado, decidimos apresentar na ExpoCatólica, especialmente aos meios de comunicação e aos empresários", disse o sacerdote.
A Feira se encerra domingo, dia 8. Vários estandes apresentarão suas empresas e produtos no segmento religioso, no ExpoCenter Norte.
A JMJ Rio2013 também está presente no evento, com as novidades para 27ª Jornada Mundial da Juventude. Durante o evento, foram apresentados detalhes da feira em 2013 - que será no Rio de Janeiro, dias antes da JMJ - palco da realização do “Bote Fé Brasil”, evento oficial na JMJ Rio 2013. O “Bote Fé” é realizado pela CNBB todos os meses nas dioceses por onde passam os Símbolos da JMJ, a Cruz Peregrina e o Ícone de Nossa Senhora.
Em 2013, os dois eventos juntos, a ExpoCatólica Rio e Bote Fé Brasil ocuparão 200 mil m² do Centro de Exposições Riocentro, tendo início dentro da programação oficial da Semana Missionária e se estendendo para os dias da Jornada.

Fonte: CNBB

terça-feira, 22 de maio de 2012

Papa pede nova geração para renovar a Igreja

Vaticano - Ao receber esta manhã a um grupo de Bispos dos Estados Unidos, o Papa Bento XVI alentou a uma nova geração de católicos, sustentados em um forte patrimônio cultural e espiritual, que permita a renovação da Igreja. Isto indicou o Papa em seu discurso ao último grupo de prelados norte-americanos que realizam sua visita quinquenal ad limina a Roma. Em encontros anteriores, diversos grupos de bispos sublinharam a importância de preservar e fomentar o dom da unidade católica, como condição para o cumprimento da missão da Igreja nos Estados Unidos. Respondendo a esta preocupação, Bento XVI se referiu em seu discurso à necessidade de incorporar à Igreja nos Estados Unidos o patrimônio de fé e cultura contribuído pelos imigrantes católicos. O Papa elogiou o trabalho realizado pela Igreja norte-americana para responder ao fenômeno da imigração: "a comunidade católica nos Estados Unidos continua, com grande generosidade, recebendo ondas de novos imigrantes, proporcionar-lhes assistência pastoral e assistência econômica, mas acima de tudo do ponto de vista humano. Assim, isto é de profunda preocupação para a Igreja, uma vez que implica garantir o tratamento justo e a defesa da dignidade humana dos imigrantes.". A Igreja nos Estados Unidos, disse o Papa, está chamada a "a abraçar, incorporar e cultivar o rico patrimônio de fé e culturas presentes em muitos grupos de imigrantes, incluindo não apenas os de seus próprios ritos, mas também o crescente número de hispânicos, asiáticos e africanos católicos". "A árdua tarefa de pastoral em promover uma comunhão de culturas dentro de suas igrejas locais deve ser considerada de particular importância no exercício do seu ministério a serviço da unidade". "Esta diaconia da comunhão implica mais do que simplesmente respeitar a diversidade linguística, promovendo as sadias tradições, e o fornecimento dos necessários programas e serviços sociais. Também exige um compromisso com a pregação contínua, as catequeses e atividades pastorais destinadas a inspirar todos os fiéis num sentido mais profundo da sua comunhão na fé apostólica e sua responsabilidade para com a missão da Igreja nos Estados Unidos", acrescentou Bento XVI. Bento XVI ressaltou logo que "a imensa promessa e as energias vibrantes de uma nova geração de católicos estão esperando para ser aproveitados para a renovação da vida da Igreja e da reconstrução das camadas da sociedade americana". Sobre a vida religiosa, o Papa expressou sua "profunda gratidão pelo exemplo de fidelidade e abnegação dado pelos muitos consagrados e consagradas em vosso país, e unir-me a eles em oração neste momento de discernimento espiritual que produzirá frutos abundantes para a revitalização e fortalecimento de suas comunidades em fidelidade a Cristo e à Igreja, bem como aos seus carismáticos fundadores”. “A necessidade urgente em nosso tempo de testemunhos credíveis e atraentes para o poder redentor e transformador do Evangelho torna-se essencial, para recapturar um sentido de beleza sublime e de dignidade na vida consagrada, rezar pelas vocações religiosas e promovê-los ativamente, enquanto reforçam-se os canais existentes de comunicação e cooperação, especialmente por meio do trabalho do vigário ou delegado para os religiosos em cada diocese”, afirmou. Quando o Vaticano ordenou uma séria avaliação da vida das religiosas nos Estados Unidos, o Santo Padre reafirmou sua "Em nossas conversas, muitos de vocês falaram de sua preocupação em construir relações cada vez mais fortes de amizade, cooperação e confiança com seus sacerdotes. No presente momento, também, exorto-vos a manterem-se particularmente próximo dos homens e mulheres em suas Igrejas locais que estão empenhados em seguir Cristo sempre com maior perfeição na generosidade abraçando os conselhos evangélicos". O Papa expressou logo sua esperança de “que o Ano da Fé, que será aberto em 12 de outubro deste ano, no 50º aniversário da abertura do Concílio Vaticano II, desperte um desejo por parte de toda a comunidade católica americana de se reapropriar, com alegria e gratidão, do tesouro inestimável da nossa fé". Para concluir Bento XVI disse que "com o enfraquecimento progressivo dos valores tradicionais cristãos, e a ameaça de uma temporada na qual nossa fidelidade ao Evangelho pode nos custar muito caro, a verdade de Cristo não apenas precisa ser compreendida, articulada e defendida, mas proposta com alegria e confiança, como a chave para a realização humana autêntica e para o bem-estar da sociedade como um todo". Fonte: ACI Digital

Um milhão de fiéis são esperados para Missa com Papa em Milão

Faltam poucos dias para o 7º Encontro Mundial das Famílias que será realizado na cidade de Milão, na Itália. O momento mais esperado é a Missa presidida pelo Papa Bento XVI, no último dia do encontro, no Parque de Bresso onde os organizadores estimam receber cerca de milhão de pessoas. O encontro começará na quarta-feira, 30, e seguirá até o domingo, 3 de junho. Os organizadores esperam que 50 mil pessoas passem pelos mais de 100 stands na Feira Internacional e para ajudar, 5 mil pessoas se colocaram à disposição como voluntárias. Famílias de 90 países estão inscritas e 50 mil euros foram arrecadados para o Fundo de Acolhimento às Famílias do Mundo, cerca de 130 mil reais. Os números foram apresentados na manhã desta terça-feira, 22, pelo Arcebispo de Milão, Cardeal Angelo Scola, em entrevista coletiva à imprensa na Sala João Paulo II, no Vaticano. Segundo o Arcebispo de Milão, o site oficial www.family2012.com recebeu 633.639 visitas, entre os visitantes mais presentes estão os italianos, espanhóis, franceses, mexicanos, americanos, argentinos, portugueses, suíços, alemães e, claro, os brasileiros. A família: o trabalho e a festa O Presidente do Pontifício Conselho para as Famílias, Cardeal Ennio Antonelli, explica que o título deste 7º encontro – “A família: o trabalho e a festa” - liga três aspectos fundamentais da vida cotidiana de todo homem – a família, o trabalho e o repouso ou a festa. “Assim, este 7º encontro soube interpretar a validade permanente dessas questões num peculiar momento histórico”, salienta Dom Antonelli. União entre um homem e uma mulher A Igreja católica defende a formação da família fundada no matrimônio entre um homem e uma mulher, uma união aberta à vida, que apesar de todos os acontecimentos históricos, continua sendo a principal via para a geração e crescimento de uma pessoa. “Desta forma, a criança, assegurada pelo amor do pai e da mãe, desde os primeiros passos, vislumbra o futuro, como prometido”, destaca o Presidente do Pontifício Conselho para as Famílias. Fonte: cancaonova.com

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Inscrições para a JMJ 2013 começam em julho

Sede da próxima Jornada Mundial da Juventude, o Rio de Janeiro já está se organizando para receber milhares de peregrinos de todas as partes do mundo que desejam participar deste sonho do coração de Deus. E você deve estar se perguntando: quando e onde poderei fazer minha inscrição? As inscrições poderão ser feitas a partir de julho de 2012, um ano antes da Jornada, exclusivamente através do portal oficial – www.rio2013.com. Segundo Irmã M. Shaiane Machado, diretora do Setor de Inscrições, “todo peregrino que vem a jornada precisa fazer sua inscrição. O Setor de Inscrições é a porta de entrada à JMJ Rio 2013, é a partir dele que a JMJ acolhe a todos e dá as boas vindas”. Faltando pouco mais de um ano para a Jornada, o Setor de Inscrições já está trabalhando arduamente para que a partir de julho de 2012, os peregrinos de todo o mundo possam inscrever-se. “Não falamos muito em números, porque toda Jornada é uma surpresa, mas, baseando em dados de outras jornadas, prevemos 800 a 900 mil inscritos através do nosso portal”, ressaltou a religiosa. Os jovens farão sua inscrição em grupos, tendo no máximo 50 peregrinos. Os grupos maiores que esse número deverão dividir-se em grupos menores (até 50) e no momento da inscrição, fazer a vinculação entre eles. Os valores para as inscrições ainda não foram definidos. Os pacotes para os peregrinos deverão ser semelhantes aos das jornadas anteriores, com variações de preços para as alternativas que podem incluir: kit peregrino, alimentação, hospedagem e transporte. Não perca tempo! Acompanhe as novidades e seja o primeiro a se inscrever. O Rio espera você de braços abertos. Venha participar desse grande evento e mostrar a força da juventude de todo o mundo! Por Renata Rodrigues e Filippe Gonçalves

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Bento XVI completa 85 anos de vida e 7 de pontificado




O papa Bento XVI celebra 85 anos de vida, nesta segunda-feira (16).
Na quinta-feira (19) é o sétimo aniversário de sua eleição para sucessor do Apóstolo Pedro, e o início do pontificado em 24 de abril.
Em seu editorial semanal, o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, da Rádio Vaticano e do Centro Televisivo Vaticano, padre Federico Lombardi, recordou a expectativa que existia na Igreja há sete anos, quando o Cardeal Ratzinger foi eleito papa.
“Um teólogo que por tanto tempo dirigiu um dicastério tão doutrinal saberia assumir uma tarefa tão diferente: o governo pastoral da Igreja universal”, afirmou
“Nestes sete anos, vimos 23 viagens internacionais a 23 países, e 26 viagens na Itália; assistimos 4 Sínodos dos Bispos e 3 Jornadas Mundiais da Juventude; lemos três Encíclicas, inúmeros discursos e atos magisteriais; participamos de um Ano Paulino e de um Ano Sacerdotal. Por fim, vimos o Papa enfrentar com coragem, humildade e determinação – ou seja, com límpido espírito evangélico – situações difíceis como a crise consequente aos abusos sexuais”, avalia Lombardi.
Ele recordou também a produção intelectual do Cardeal Ratzinger, com as obras ‘Jesus de Nazaré’ e o livro-entrevista ‘Luz do mundo’.
‘Da coerência e da constância de seus ensinamentos, aprendemos sobretudo que a prioridade de seu serviço à Igreja e à humanidade é orientar nossas vidas a Deus’, afirmou.
Padre Lombardi lembrou os próximos eventos importantes da agenda do papa: o Encontro Mundial das Famílias, a visita ao Oriente Médio, o próximo Sínodo da Nova Evangelização e o Ano da Fé.
O porta-voz da Santa Sé também destacou o tom do discurso do papa em seu pontificado, contrário ao relativismo e à indiferença religiosa.
“A fé e a razão se ajudam mutuamente na busca da verdade e respondem às expectativas e dúvidas de cada um de nós e de toda a humanidade; que a indiferença a Deus e o relativismo são riscos gravíssimos de nossos tempos. Somos imensamente gratos por tudo isso”.
Na oração do Regina Caeli deste Segundo Domingo da Páscoa, Bento XVI pediu aos fiéis que rezem por ele, para que o Senhor lhe dê as forças necessárias para cumprir a missão. O irmão do papa, Monsenhor George Ratzinger, que vive na Alemanha, está no Vaticano para acompanhar as celebrações destes dias.




Informações: CNBB

domingo, 15 de abril de 2012

Nota da CNBB sobre o aborto de Feto “Anencefálico”

Referente ao julgamento do Supremo Tribunal Federal sobre a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 54

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB lamenta profundamente a decisão do Supremo Tribunal Federal que descriminalizou o aborto de feto com anencefalia ao julgar favorável a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental n. 54. Com esta decisão, a Suprema Corte parece não ter levado em conta a prerrogativa do Congresso Nacional cuja responsabilidade última é legislar.
Os princípios da “inviolabilidade do direito à vida”, da “dignidade da pessoa humana” e da promoção do bem de todos, sem qualquer forma de discriminação (cf. art. 5°, caput; 1°, III e 3°, IV, Constituição Federal), referem-se tanto à mulher quanto aos fetos anencefálicos. Quando a vida não é respeitada, todos os outros direitos são menosprezados, e rompem-se as relações mais profundas.
Legalizar o aborto de fetos com anencefalia, erroneamente diagnosticados como mortos cerebrais, é descartar um ser humano frágil e indefeso. A ética que proíbe a eliminação de um ser humano inocente, não aceita exceções. Os fetos anencefálicos, como todos os seres inocentes e frágeis, não podem ser descartados e nem ter seus direitos fundamentais vilipendiados!
A gestação de uma criança com anencefalia é um drama para a família, especialmente para a mãe. Considerar que o aborto é a melhor opção para a mulher, além de negar o direito inviolável do nascituro, ignora as consequências psicológicas negativas para a mãe. Estado e a sociedade devem oferecer à gestante amparo e proteção
Ao defender o direito à vida dos anencefálicos, a Igreja se fundamenta numa visão antropológica do ser humano, baseando-se em argumentos teológicos éticos, científicos e jurídicos. Exclui-se, portanto, qualquer argumentação que afirme tratar-se de ingerência da religião no Estado laico. A participação efetiva na defesa e na promoção da dignidade e liberdade humanas deve ser legitimamente assegurada também à Igreja.
A Páscoa de Jesus que comemora a vitória da vida sobre a morte, nos inspira a reafirmar com convicção que a vida humana é sagrada e sua dignidade inviolável.
Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, nos ajude em nossa missão de fazer ecoar a Palavra de Deus: “Escolhe, pois, a vida” (Dt 30,19).



Cardeal Raymundo Damasceno Assis

Arcebispo de Aparecida

Presidente da CNBB



Leonardo Ulrich Steiner

Bispo Auxiliar de Brasília

Secretário Geral da CNBB

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Catequese de Bento XVI - 11/04/2012





Depois das celebrações da Páscoa, o nosso encontro de hoje é invadido por uma alegria espiritual, também se o céu está acinzentado, levamos no coração a alegria da Páscoa, a certeza da Ressurreição de Cristo que definitivamente triunfou sobre a morte. Antes de tudo, renovo a cada um de vocês uma cordial saudação pascal: em todas as casas e em todos os corações ressoa o anúncio alegre da Ressurreição de Cristo, que faz renascer a esperança.
Nesta catequese gostaria de mostrar a transformação que a Páscoa de Jesus provocou nos seus discípulos. Partamos da noite do dia da Ressurreição. Os discípulos estão trancados em casa por medo dos judeus (Jo 20,19). O temor aperta o coração e impede de andar ao encontro dos outros, de encontro à vida. O mestre não está mais. A recordação da Paixão alimenta a incerteza. Mas Jesus tem no coração os seus e está para cumprir a promessa que havia feito durante a Última Ceia: "Não vos deixarei órfãos, mas virei até vocês" (Jo 20,19) e isto diz também a nós, também nos tempos difíceis: "não vos deixarei órfãos".
Esta situação de angústia dos discípulos muda radicalmente com a chegada de Jesus. Ele entra a portas fechadas, está em meio a eles e doa a paz que sustenta: "Paz a vós" (Jo 20,19b). É uma saudação comum que, todavia, ora conquista um significado novo, porque opera uma mudança interior; é uma saudação pascal, que faz superar todo o medo dos discípulos. A paz que Jesus traz é o dom de salvação que Ele havia prometido durante os seus discursos de despedida: "Vos deixo a paz, vos dou a paz. (Jo 14,27). Neste dia da Ressurreição, Ele a doa em plenitude e ela se torna para a comunidade fonte de alegria, certeza de vitória, segurança no apoiar-se em Deus. "Não se turbe o vosso coração, e não tenhais medo" (Jo 14,1) diz também a nós.
Depois desta saudação, Jesus mostra aos discípulos as feridas das mãos e do lado (Jo 20,20), sinais daquilo que aconteceu e jamais será apagado: a sua humanidade gloriosa fica 'ferida'. Este gesto tem o objetivo de confirmar a nova realidade da Ressurreição: O Cristo que agora está entre os seus é uma pessoa real, o mesmo Jesus que três dias antes foi pregado na cruz.
E é assim que, na luz fulgurante da Páscoa, no encontro com o Ressuscitado, os discípulos colhem o sentido salvífico da sua paixão e morte. Então, da tristeza e do medo passam à alegria plena. A tristeza e as feridas se tornam fonte de alegria. A alegria que nasce no coração deles deriva do 'ver o Senhor' (Jo 20,20). Ele diz-lhes de novo: "Paz esteja com vocês" (v.21). É evidente agora que não é somente uma saudação. É um dom, o dom que o Ressuscitado quer fazer aos seus amigos, e é ao mesmo tempo uma entrega: esta paz, conquistada por Cristo com seu sangue, é para eles, mas também para todos, e os discípulos deveram levá-la em todo o mundo.
De fato, Ele acrescenta: "Como o Pai enviou-me, também eu vos envio". Jesus ressuscitado retornou entre os seus discípulos para enviá-los. Ele completou a sua obra no mundo, e agora lhes cabe semear nos corações a fé, para que o Pai, conhecido e amado, recolha todos os seus filhos da dispersão. Mas Jesus sabe que nos seus existe ainda muito temor, sempre. Por isso, cumpre o gesto de soprar sobre eles e os regenera no seu Espírito (Jo 20,22); este gesto é o sinal da nova criação.
Com o dom do Espírito Santo que provém de Cristo ressuscitado tem início, de fato, um mundo novo. Com o envio em missão dos discípulos, se inaugura o caminho no mundo do povo da nova aliança, povo que crê Nele e na sua obra de salvação, povo que testemunha a verdade da ressurreição. Esta novidade de uma vida que não morre, trazida pela Páscoa, é difundida por toda a parte, para que os espinhos do pecado que ferem o coração do homem, dêem lugar às sementes da graça, da presença de Deus e do seu amor que vence o pecado e a morte.
Queridos amigos, também hoje o Ressuscitado entra nas nossas casas e em nossos corações, apesar de às vezes, as portas estarem fechadas. Entra doando alegria e paz, vida e esperança, dons dos quais temos necessidade para o nosso renascimento humano e espiritual. Somente Ele pode retirar aquelas pedras de sepulcro que o homem frequentemente coloca sobre os próprios sentimentos, sobre as próprias relações, sobre os próprios comportamentos, pedras que estabelecem a morte: divisões, inimizades, rancores, invejas, divergências, indiferenças.
Somente Ele, o Vivente, pode dar sentido à existência e retoma o caminho a quem é cansado e triste, desesperançoso. É o que experimentaram os dois discípulos que no dia de Páscoa estavam em caminho de Jerusalém a Emaús (Luc 24,13-35). Eles falam de Jesus, mas a face deles está triste (v. 17) exprime as esperanças frustradas, a incerteza e a melancolia. Tinham deixado suas cidades para seguir Jesus com seus amigos, e tinham descoberto uma nova realidade, na qual o perdão e o amor não eram mais somente palavras, mas tocavam concretamente a existência. Jesus de Nazaré tinha tornado tudo novo, tinha transformado a vida deles. Mas agora, Ele estava morto e tudo parecia ter chegado ao fim.
De repente, todavia, não são mais dois, mas três pessoas que caminham. Jesus se aproxima dos dois discípulos e caminha com eles, mas eles são incapazes de reconhecê-lo. Claro, tinham ouvido falar sobre a ressurreição e de fato, dizem: "Algumas mulheres, das nossas vieram a dizer-nos de terem tido uma visão de anjos, os quais afirmam que Ele é vivo (v 22-23).
Entretanto, tudo isso não foi suficiente para convencê-los, porque eles não haviam visto" (v.24). Então Jesus, com paciência, começando por Moisés e por todos os profetas, explicou-lhes em todas as Escrituras, aquilo que era referente a Ele (v.27). O Ressuscitado explica aos discípulos a Sagrada Escritura, oferecendo a chave de leitura fundamental dela, isto é, Ele mesmo e o seu Mistério Pascal: a Ele as Escrituras rendem testemunho (Jo 5,39-47). O sentido de tudo, da Lei, dos Profetas e dos Salmos, improvisadamente se abre e se torna claro aos olhos deles. Jesus tinha aberto-lhes a mente e a inteligência diante das Escrituras (Luc 24,35).
Logo em seguida, chegaram ao vilarejo, provavelmente à casa de um dos dois. O forasteiro viajante faz como se quisesse andar mais longe (v.28). Também nós sempre de novo devemos dizer ao Senhor com ardor: "Fique conosco". Quando se pôs à mesa com eles, tomou o pão, recitou a benção, o partiu e o deu a eles. (v.30). A repetição dos gestos realizados por Jesus na última Ceia é evidente. "Então se abriram os olhos deles e o reconheceram" (v.31).
A presença de Jesus, antes com as palavras, depois com o gesto do partir o pão, torna possível aos discípulos de reconhecê-lo, e eles podem sentir em modo novo quanto havia já sentido caminhando com Ele: "Não ardia o nosso coração enquanto ele conversava conosco ao longo do caminho, quando nos explicava as escrituras? (v.32). Este episódio nos indica dois lugares privilegiados onde podemos encontrar o Ressuscitado que transforma a nossa vida: a escuta da palavra, em comunhão com Cristo, e o partir o Pão; 'dois lugares' profundamente unidos entre eles porque "Palavra e Eucaristia se pertencem tão intimamente ao ponto de não poderem ser compreendidas uma sem a outra: A Palavra de Deus se faz carne sacramental no evento eucarístico" (Exort. Ap. Pós-sinodal Verbum Domini, 54-55).
Depois deste encontro, os dois discípulos partiram para Jerusalém, onde encontraram reunidos os onze e os outros que estavam com eles, os quais diziam: "Verdadeiramente o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!" (v 33-34). Em Jerusalém eles escutavam a notícia da ressurreição de Jesus, e por sua vez, narraram a própria experiência, inflamada de amor pelo Ressuscitado, que lhes abriu o coração em uma alegria que não se podia conter. Foram, como diz São Pedro, regenerados em uma experiência viva da ressurreição de Cristo dos mortos (Pt 1,3). Renasce neles o entusiasmo da fé, o amor pela comunidade, a necessidade de comunicar a boa notícia. O Mestre ressuscitou e com Ele toda a vida ressurge; testemunhar este evento se torna para eles uma enorme necessidade.
Caros amigos, o tempo pascal seja para todos nós uma ocasião propícia para redescobrir com alegria e entusiasmo as fontes da fé, a presença do Ressuscitado entre nós. Trata-se de cumprir o mesmo itinerário que Jesus fez os discípulos de Emaús realizarem, através da redescoberta da Palavra de Deus e da Eucaristia, isto é, andar com o Senhor e deixar abrir os olhos ao verdadeiro sentido da Escritura e à sua presença no partir o pão. O cume deste caminho, assim como hoje, é a Comunhão Eucarística: na Comunhão Jesus nos nutre com o seu Corpo e Seu Sangue, para ser presente na nossa vida, para tornar-nos novos, animados pela potência do Espírito Santo.
Em conclusão, a experiência dos discípulos nos convida a refletir sobre o sentido da Páscoa para nós. Deixemo-nos encontrar por Jesus ressuscitado! Ele, vivo e verdadeiro, é sempre presente em meio a nós; caminha conosco para guiar a nossa vida, para abrir os nossos olhos. Temos confiança no Ressuscitado que tem o poder de dar a vida: a liberta do medo, dá a ela firme esperança, a torna animada por aquilo que doa sentido à existência, o amor de Deus. Obrigado!

quarta-feira, 11 de abril de 2012

CNBB convoca para Vigília de Oração pela Vida




Na próxima quarta-feira, dia 11/04, o Supremo Tribunal Federal (STF) realiza o julgamento sobre a descriminalização do aborto de anencéfalos – casos em que o feto tem má formação no cérebro. A presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) enviou nesta Sexta-feira Santa, 06/04, uma carta a todos os bispos do país, convocando para uma Vigília de Oração pela Vida às vésperas do julgamento.
Em agosto de 2008, por ocasião do primeiro julgamento do caso, a CNBB publicou uma nota que explicita a sua posição. “A vida deve ser acolhida como dom e compromisso, mesmo que seu percurso natural seja, presumivelmente, breve. (...)Todos têm direito à vida. Nenhuma legislação jamais poderá tornar lícito um ato que é intrinsecamente ilícito. Portanto, diante da ética que proíbe a eliminação de um ser humano inocente, não se pode aceitar exceções. Os fetos anencefálicos não são descartáveis. O aborto de feto com anencefalia é uma pena de morte decretada contra um ser humano frágil e indefeso. A Igreja, seguindo a lei natural e fiel aos ensinamentos de Jesus Cristo, que veio “para que todos tenham vida e vida em abundância” (Jo 10,10), insistentemente, pede, que a vida seja respeitada e que se promovam políticas públicas voltadas para a eficaz prevenção dos males relativos à anencefalia e se dê o devido apoio às famílias que convivem com esta realidade”.

A seguir, a íntegra da carta da presidência da CNBB, bem como o texto completo da nota sobre o assunto.

Brasília, 06 de abril de 2012
P - Nº 0328/12


Exmos. e Revmos. Srs.

Cardeais, Arcebispos e Bispos
Em própria sede
ASSUNTO: Vigília de Oração pela Vida, às vésperas do dia 11/04/12, quarta feira.
DGAE/2011-2015: Igreja a serviço da vida plena para todos (nn. 65-72)
“Para que TODOS tenham vida” (Jo 10,10).
CF 2008: “Escolhe, pois, a vida” (Dt 30,19).
CF 2012: “Que a saúde se difunda sobre a terra” (Eclo 38,8).
Irmãos no Episcopado,


A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil jamais deixou de se manifestar como voz autorizada do episcopado brasileiro sobre temas em discussão na sociedade, especialmente para iluminá-la com a luz da fé em Jesus Cristo Ressuscitado, “Caminho, Verdade e Vida”.

Reafirmando a NOTA DA CNBB (P – 0706/08, de 21 de agosto de 2008) SOBRE ABORTO DE FETO “ANENCEFÁLICO” REFERENTE À ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL Nº 54 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, a presidência solicita aos irmãos no episcopado:
Promoverem, em suas arqui/dioceses, uma VIGÍLIA DE ORAÇÃO PELA VIDA, às vésperas do julgamento pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a possibilidade legal do “aborto de fetos com meroanencefalia (meros = parte), comumente denominados anencefálicos” (CNBB, nota P-0706/08).Informa-se que a data do julgamento da ADPF Nº 54/2004 será DIA 11 DE ABRIL DE 2012, quarta feira da 1ª Semana da Páscoa, em sessão extraordinária, a partir das 09 horas.

Com renovada estima em Jesus Cristo, nosso Mestre Vencedor da morte, agradecemos aos irmãos de ministério em favor dos mais frágeis e indefesos,

Cardeal Raymundo Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida (SP)
Presidente da CNBB

Dom José Belisário da Silva
Arcebispo de São Luiz (MA)
Vice-presidente da CNBB

Dom Leonardo Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília (DF)
Secretário Geral da CNBB


Nota da CNBB sobre Aborto de Feto “Anencefálico” - Ano 2008

Referente à Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental n. 54 do Supremo Tribunal Federal

O Conselho Episcopal Pastoral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, em reunião ordinária, vem manifestar-se sobre a Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF n° 54/2004), em andamento no Supremo Tribunal Federal, que tem por objetivo legalizar o aborto de fetos com meroanencefalia (meros = parte), comumente denominados “anencefálicos”, que não têm em maior ou menor grau, as partes superiores do encéfalo e que erroneamente, têm sido interpretados como não possuindo todo o encéfalo, situação que seria totalmente incompatível com a vida, até mesmo pela incapacidade de respirar. Tais circunstâncias, todavia, não diminuem a dignidade da vida humana em gestação.
Recordamos que no dia 1° de agosto de 2008, no interior do Estado de São Paulo, faleceu, com um ano e oito meses, a menina Marcela de Jesus Galante Ferreira, diagnosticada com anencefalia. Quando Marcela ainda estava viva, sua pediatra afirmou: “a menina é muito ativa, distingue a sua mãe e chora quando não está em seus braços.” Marcela é um exemplo claro de que uma criança, mesmo com tão malformação, é um ser humano, e como tal, merecedor de atenção e respeito. Embora a Anencefalia esteja no rol das doenças congênitas letais, cursando com baixo tempo de vida, os fetos portadores destas afecções devem ter seus direitos respeitados.
Entendemos que os princípios da “inviolabilidade do direito à vida”, da “dignidade da pessoa humana” e da promoção do bem de todos, sem qualquer forma de discriminação, (cf. art. 5°, caput; 1°, III e 3°, IV, da Constituição Federal) referem-se também aos fetos anencefálicos. Quando a vida não é respeitada todos os outros direitos são menosprezados. Uma “sociedade livre, justa e solidária” (art. 3°, I, da Constituição Federal) não se constrói com violências contra doentes e indefesos. As pretensões de desqualificação da pessoa humana ferem sua dignidade intrínseca e inviolável.
A vida deve ser acolhida como dom e compromisso, mesmo que seu percurso natural seja, presumivelmente, breve. Há uma enorme diferença ética, moral e espiritual entre a morte natural e a morte provocada. Aplica-se aqui, o mandamento: “Não matarás” (Ex 20,13).
Todos têm direito à vida. Nenhuma legislação jamais poderá tornar lícito um ato que é intrinsecamente ilícito. Portanto, diante da ética que proíbe a eliminação de um ser humano inocente, não se pode aceitar exceções. Os fetos anencefálicos não são descartáveis. O aborto de feto com anencefalia é uma pena de morte decretada contra um ser humano frágil e indefeso.
A Igreja, seguindo a lei natural e fiel aos ensinamentos de Jesus Cristo, que veio “para que todos tenham vida e vida em abundância” (Jo 10,10), insistentemente, pede, que a vida seja respeitada e que se promovam políticas públicas voltadas para a eficaz prevenção dos males relativos à anencefalia e se dê o devido apoio às famílias que convivem com esta realidade.
Com toda convicção reafirmamos que a vida humana é sagrada e possui dignidade inviolável. Fazendo, ainda, ecoar a Palavra de Deus que serviu de lema para a Campanha da Fraternidade, deste ano, repetimos: “Escolhe, pois, a vida” (Dt 30,19).


Dom Geraldo Lyrio Rocha
Arcebispo de Mariana (MG)
Presidente da CNBB

Dom Luiz Soares Vieira
Arcebispo de Manaus (AM)
Vice Presidente da CNBB

Dom Dimas Lara Barbosa
Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro (RJ)
Secretário Geral da CNBB

quarta-feira, 21 de março de 2012

Rezar sempre

Dom Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)


Entre as práticas que somos chamados a fazer durante a Quaresma, além do jejum e da esmola existe uma terceira prática muito importante se desejamos viver plenamente este tempo e a nossa vida cristã: a oração.

A Igreja, em sua tradição milenar, possui um conjunto de orações que fazem parte da cultura e do “ser católico”, como o Pai Nosso, a oração que o próprio Jesus nos ensinou, a oração do Terço, a Profissão de Fé e outras tantas devoções que cada um de nós aprendeu desde criança e sente em seu íntimo que deve praticar.

No entanto, a oração é muito mais do que a repetição de fórmulas. Se rezamos, por exemplo, um Pai Nosso sem o sentido que este exige, praticamente só repetimos a fórmula. Esta verdade se aplica a todas as orações conhecidas como vocais. “Nas vossas orações não useis vãs repetições, como os gentios, porque imaginam que é pelo palavreado excessivo que serão ouvidos. Não sejais como eles, porque vosso Pai sabe do que tendes necessidade antes de lho pedirdes.” (Mt 6, 7-8).

O cristianismo é fruto de um encontro com Cristo. Pois bem, a oração é o lugar privilegiado para este encontro. Com ela temos experiência do amor e há renovação no amor. É lugar de conversão a Deus. Ela oferece a ocasião para que Cristo possa ser o único necessário. Ela nos fortalece para que toda a nossa vida tenha um toque divino.

Não há cristianismo sem oração, pois não há amor sem diálogo e entrega na liberdade. A oração é tão importante que, até hoje, cada um de nós, apóstolos e missionários, especialmente consagrados e consagradas, somos frutos daquela noite silenciosa em que Cristo subiu ao monte para orar e escolheu os doze apóstolos. A oração transcende o espaço e o tempo. (Cf. Lc 6, 12-16)
Deus, em sua onipotência e misericórdia, quis necessitar de nós. Pois só na liberdade há a plena adesão a Cristo. Só na oração posso descobrir os planos que Deus tem para mim. Maria estava em oração quando recebeu a sua missão, e, por ser uma alma generosa e contemplativa, pôde dizer sim a Deus.

A oração é promotora de amor, de generosidade e de entrega. Ela nos convida ao jejum como conversão de nós mesmos, através da consciência de nossa indigência. Ela nos lança a prática da esmola e da caridade, como manifestação do amor a Deus e a meu irmão. A oração é lugar de transformação e de impulso. Reconhecemos o homem e a mulher de oração no olhar, janela da alma, pois resplandece a presença interior de Deus.

Como afirma o Catecismo: “O desejo de Deus está inscrito no coração do homem, porque o homem foi criado por Deus e para Deus.” (Catecismo da Igreja Católica, n. 27). O ser humano só se realiza plenamente quando cria em sua vida este espaço diário de encontro com o divino. Como lembra muito bem Bento XVI: “O homo religiosus não emerge só dos mundos antigos, mas atravessa toda a história da humanidade.” (Audiência Geral, 11 de maio de 2011).

A oração nunca será superada pela técnica, pelo desenvolvimento e pelo progresso. Ao contrário, a sede de infinito que o homem possui, o desejo de transcender é a condição de possibilidade para todo e qualquer avanço científico e moral. Portanto, apenas na oração é que a sede e o desejo de ir mais além se saciam.

A oração é a manifestação da atração que todos temos por Deus. Por isto, entremos alegres na via quaresmal, conscientes de que em Deus encontramos o fim de nossas vidas. Deus nos convida a conviver com Ele. Vamos deixar que Cristo seja realmente o Senhor de nossas vidas.

Para isso, bastam pequenos gestos. Se no caminho do trabalho ou da escola me deparo com uma Igreja, entremos e passemos alguns minutos com Jesus no sacrário. Ensinemos nossos filhos e filhas a fazer uma oração antes e depois das refeições. Rezemos, também, antes de começar o trabalho ou um estudo. Aproveitemos para reunir a família algum dia da semana, ou todos os dias, para rezar o Terço. Lancemos, durante o dia, muitas flechas de amor ao céu através de pequenas frases conhecidas como jaculatórias, como por exemplo: “Senhor, eu te amo”, ou “Senhor, cuida da minha vida”, ou “Cristo, dai-me paz e alegria”.

Orar é amar muito! E se ama não apenas com palavras, mas com gestos e olhares. Necessitamos de tempo de oração vocal, litúrgica e silenciosa para que toda a vida se transforme em oração. E assim, todas as vezes que fazemos a vontade de Deus, segundo a própria missão e vocação, estamos orando. Ora a mãe que cuida de seus filhos, ora o filho que estuda e ajuda a sua mãe, ora o Pai que tem gestos de carinho com a sua esposa.

Que a exemplo de nossa querida mãe Maria Santíssima, que guardava todas as coisas em seu coração, deixemos que toda a nossa vida seja oração, e reservemos momentos para subir ao monte espiritual da oração para estar diante de Deus, face a face, e descobrir o quanto Deus nos ama.


FONTE: http://www.cnbb.org.br/articulistas/dom-orani-joao-tempesta/rezar-sempre

sábado, 10 de março de 2012

“Dar razões da própria esperança” (1Pd 3, 15)

Queridos Jovens,
É necessário percorrer um caminho de preparação espiritual e apostólica se realmente desejamos que os frutos da Jornada Mundial da Juventude Rio 2013 possam amadurecer e transformar as nossas vidas. Devemos trilhar num itinerário de oração e de trabalho para que as palavras do Santo Padre, o Papa, e o encontro renovador em Cristo e com os irmãos do mundo inteiro possam dar frutos de vida eterna. Se não estivermos atentos, poderemos facilmente fazer parte da multidão que gritava “Hosana” no Domingo de Ramos e “crucifica-o” na Sexta-Feira Santa.
Desejo peregrinar com vocês e, para isso, gostaria de propor uma breve reflexão sobre o tema da primeira Jornada Mundial da Juventude: "Estejam sempre preparados para responder a qualquer que lhes pedir a razão da esperança que há em vocês" (1Pd 3, 15).
Ele foi escolhido pelo Beato João Paulo II em 1986. Quando no dia 23 de março, no Domingo de Ramos, as dioceses do mundo inteiro realizaram a I Jornada Mundial da Juventude.
Lendo o convite de São Pedro a dar razões de nossa fé, a primeira coisa em que pensamos é como defender nossa fé contra aqueles que a denigrem. Pensamos em uma apologética da fé, que consiste apenas em embates e discussões para demonstrar a verdade. Este tipo de missão é necessário e importante, sem dúvida, mas deve ser executada por amor às pessoas a quem Deus ama.
Porém, muitas vezes nos esquecemos de que a primeira e fundamental missão e apologética que podemos e devemos realizar é a do testemunho de nossa fé através do exemplo. Um jovem de verdadeira identidade católica é aquele que transmite nas pequenas tarefas do dia a dia o sopro da graça Divina. Um jovem católico é alegre e entusiasta, é capaz de escutar a todos e falar com vivacidade de Cristo. É aquele que em casa apoia a família, e na escola se esforça por estudar, respeita os seus professores e é cordial com todos os funcionários da Escola em que estuda. E se o adolescente pratica algum esporte, é sinal de caridade e harmonia. Com a namorada ou o namorado coloca todos os meios necessários para viver com santidade esta etapa importante da vida. É também aquele que consegue ver com os olhos da fé os problemas sociais, familiares, psicológicos e dificuldades várias que passa na vida.
Não deixemos nos enganar pelo inimigo, porque o demônio nos ronda e nos tenta. Apologética deve supor a vivência pessoal da fé, senão fica completamente vazia. Verdade sem caridade transforma-se numa mentira, pois não respeita o outro enquanto criatura amada e querida por Deus. Cristo nos deu diversas lições sobre isto. É completamente evangélica a frase: “Rejeitar o pecado, mas não o pecador”. Querendo arrancar a erva daninha, muitas vezes poderemos arrancar a boa semente.
A caridade sem verdade é falsa. Pois só na verdade existe a real caridade em sentido evangélico e cristão. Por isso, é importante sair da infantilidade da fé. Isso ocorre quando cometemos a injustiça de querer enfrentar os questionamentos do mundo tendo a formação infantil. Daí a importância do Ano da Fé pedido pelo Papa Bento XVI.
É triste perceber que existem excelentes profissionais católicos, com um alto padrão de formação e especialização que exige seu campo de atuação, mas que possuem um conteúdo catequético raquítico, desnutrido. É uma tremenda injustiça com a Igreja e com Cristo.
Então, o que fazer? Não podemos ficar com os braços cruzados. É necessário levar a boa nova de Cristo a todas as criaturas. E não há melhor modo de fazer isto do que através de gestos de amor, entrega, trabalho e doação.
É necessária a inteligência da fé. A Igreja possui dois mil anos de história e tradição. Carrega um patrimônio humanístico, cultural, filosófico e teológico únicos. Temos o Catecismo da Igreja Católica e o Compêndio do Catecismo. Temos os Santos Padres da Igreja. As encíclicas papais, os documentos dos concílios. É necessário saber dar razões de nossa fé, mas para isto é necessário estudá-la e aprofundá-la sempre e cada vez mais.
Nossa fé não é puro sentimento ou apenas a invenção de um grupo de homens piedosos. Existe a racionalidade da fé. E no Catolicismo esta inteligência da fé possui uma densidade tal, que seria um pecado de omissão não conhecer e estudar.
Peguemos as primeiras palavras do evangelho de São João. O que encontramos lá? “No princípio era o Verbo” (Jo 1,1). Uma das grandes questões que movia a mente dos filósofos gregos era a que versava sobre o princípio e fundamento de todas as coisas. Por que as coisas existem? Qual é o fundamento delas? João apresenta Cristo como o Verbo, o fundamento de todas as coisas que os gregos durantes séculos buscavam. Cristo é o verdadeiro logos, a razão. No cristianismo, Cristo é a razão encarnada.
São palavras belíssimas do evangelista, que devem encher nosso coração de alegria e entusiasmo por nossa fé. Ela não é irracional ou puro sentimento. Ela é sentido e razão de ser de todas as coisas. Não carreguemos em nossas almas algum sentimento de inferioridade. Não se deixem seduzir por intelectualismos vazios. Conheçam a fé que professam.
Preparem-se bem para a Jornada Rio 2013 através de uma vida verdadeiramente cristã, que seja sal e luz e possa atrair a todos pela beleza de seus gestos e palavras. Preparem-se conhecendo mais profundamente a doutrina e a tradição da Igreja. Sempre há um motivo e uma razão para a Igreja defender certa posição. Antes de criticá-la, busque conhecer as razões. Devemos viver nossa fé com todo nosso ser, com nossa alma, com nossa inteligência e com o nosso coração. A Igreja ofereceu aos jovens o catecismo adaptado à sua linguagem e, em Madri, entregou a todos os inscritos para a Jornada um exemplar em sua própria língua.
Dar razões de nossa fé é, sobretudo, viver integralmente o cristianismo. Muito me alegram os inúmeros grupos de jovens que utilizam as redes para a formação cristã. Parabéns pela iniciativa! E felicito todos os jovens que estão levando a sério a preparação para a Jornada Mundial, através de encontros de oração, reflexão, partilha e missão. Motivo todos a continuarem por esse caminho, que só tem a enriquecer a vida de vocês.
Que Cristo, o Logos encarnado, nos ilumine para que possamos no dia a dia de nossa vida dar razões de nossa esperança.

Dom Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)

Fonte: CNBB

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Ministro do Turismo fala sobre investimentos e acolhida dos jovens durante a JMJ 2013




Jovens de todas as partes do mundo estão ansiosos com a realização da JMJ – Jornada Mundial da Juventude 2013, que será realizada no Rio de Janeiro.


Os trabalhos de divulgação e várias campanhas para melhor acolher os participantes de todo o mundo estão acontecendo e nesta semana a delegação do Pontifício Conselho para os Leigos (PCL) visita a cidade maravilhosa para avaliar o andamento dos trabalhos que estão a todo vapor.


A CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, por meio de sua Comissão para a Juventude não mede esforços para fazer desse grande evento um marco na história das Jornadas e juntamente com a Arquidiocese do Rio de Janeiro e da comunidade católica de todo Brasil já começou a procurar parceiros para essa grande festa da juventude.



O Portal A12.com tem acompanhado as iniciativas e acontecimentos relacionados a preparação da JMJ no Brasil e para conhecer a expectativa do Governo Federal sobre o evento conversou com o Ministro do Turismo, Gastão Vieira, que deixou claro que é um privilégio para o Brasil receber a Jornada Mundial.


“Jovens do mundo inteiro virão ao Brasil para trocar experiências e confirmar sua fé. Frequentemente, eles são acompanhados por familiares, e uma parcela considerável dedica parte da viagem para conhecer outras regiões do país. É um fator estimulante para nossa cadeia turística, que está pronta para receber este grande evento”, disse o ministro.


O Ministro Gastão Vieira falou também sobre os investimentos que estão sendo pensados para acolher os jovens do Brasil e como deve ser a parceria com a Igreja Católica.


Acompanhe abaixo mais detalhes da entrevista exclusiva ao portal A12.com:


A12 - Quais os investimentos pensados para melhor acolher a juventude mundial?


Ministro Gastão Vieira - Nosso objetivo é preparar todo o país como destino turístico de forma sustentável e levar em consideração os grandes eventos dos próximos anos de forma integrada. Para isso, o Ministério do Turismo trabalha para melhorar a infraestrutura turística no Brasil, a divulgação dos nossos atrativos no exterior e promoção do turismo doméstico. As ações da pasta têm sido reforçadas em todas as regiões brasileiras, potencializando o que cada uma tem de melhor para oferecer aos visitantes. Dessa forma, destinos além das capitais estão desenvolvendo sua cadeia turística, para que os visitantes se sintam acolhidos e dispostos a retornar ao país em viagens futuras.

A12- De que maneira o ministério deve se aliar a CNBB e a Igreja no Brasil para que o evento aconteça da melhor maneira possível?


Ministro Gastão Vieira - Pelo caráter religioso e pela presença do papa Bento XVI no Brasil, a Igreja terá todo o apoio e incentivo do Ministério para a divulgação e realização do evento. Estaremos disponíveis para contribuir no que for necessário, dentro de nossas atribuições, e fazer esta edição da Jornada Mundial da Juventude uma das mais representativas para o catolicismo mundial.


A12- A JMJ também acaba sendo um evento de divulgação do Brasil para todo o mundo. Como o ministério avalia esse fato?


Ministro Gastão Vieira - O evento oferecerá uma oportunidade fantástica de exposição turística do nosso país no exterior, especialmente aos jovens, que pela relação que têm com as novas tecnologias, como as redes sociais, serão os grandes “divulgadores” do Brasil em seus países. Calculamos que pelo menos 2 milhões de pessoas participem do evento, entre brasileiros e estrangeiros, o que terá grande impacto na economia do Rio de Janeiro e de outros estados.


A12- Na última jornada, que aconteceu em agosto do ano passado, em Madri, na Espanha, o evento reuniu cerca de 2 milhões de jovens. O Rio de Janeiro está preparado para acolher todos os participantes?


Ministro Gastão Vieira - O Rio de Janeiro tem vocação natural para receber um grande número de turistas de todas as partes do mundo. A tradição na preparação dos grandes eventos – como a festa de réveillon e o carnaval – e a eficiência da atual política de segurança pública ratificam a competência da cidade para a realização de encontros como a Jornada Mundial da Juventude.


Perguntado sobre a estrutura de segurança para a realização do evento, o ministro disse apenas que “essa questão está fora das atribuições do ministério”, finalizou.




Foto: Agência Câmara

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Vídeo Oficial Logo JMJ Rio 2013

Campanha para acolhida dos peregrino da JMJ 2013 será lançada




Uma das etapas principais da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) é a acolhida aos peregrinos que virão de todas as partes do mundo. Neste domingo, 4, será lançada nas paróquias da Arquidiocese do Rio de Janeiro a Campanha de Hospedagem para a JMJ Rio2013.

Em entrevista ao Setor de Comunicação da JMJ, a responsável pelo Setor de Hospedagem, irmã Graça Maria, explica como será este processo.

Setor de Comunicação da JMJ – Como será a hospedagem dos peregrinos para a JMJ Rio2013?

Irmã Graça Maria – As hospedagens serão em casas de família, paróquias, escolas públicas e particulares, ginásios poliesportivos, casas de festas, centros comunitários e outros locais que sejam seguros e cobertos para que o peregrino possa ser alojado para pernoite.

JMJ – Qual a mensagem da campanha?

Irmã Graça – “Amai-vos mutuamente com afeição terna e fraternal. Socorrei às necessidades dos fiéis. Esmerai-vos na prática da hospitalidade” (Rom 12, 10.13). São Paulo resume como devem ser nossas equipes de hospedagem e famílias de acolhida.

JMJ – Como uma família é impactada ao abrir sua casa para receber um peregrino?

Irmã Graça – Ao exercitar uma das obras de misericórdia: “dar pousada ao peregrino”, a família sentirá a alegria e a oportunidade de dar testemunho e vivenciar sua fé e o dinamismo dos jovens de outras cidades, países e até mesmo continentes.

JMJ – Da mesma forma, como um peregrino é afetado por essa experiência?

Irmã Graça – “Ainda que eu falasse a língua dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine”. O peregrino poderá experimentar essa caridade, virtude cristã, que ultrapassa todas as diferenças de cor, raça, cultura, povo e língua.

JMJ – O que é preciso para ser um hospedeiro?

Irmã Graça – Nós estamos trabalhando com “carbono zero”. Isto significa que iremos centralizar nossos cadastros pelo portal: www.rio2013.compthospedagem. Porém, sabemos que para muitos isso poderá ser um impedimento, e por esta razão estão sendo montados plantões paroquiais para atenderem estas pessoas que querem ser família de acolhida e não têm acesso à internet.

Também aqueles que quiserem oferecer seus estabelecimentos poderão entrar em contato conosco pelo email: hosped@rio2013.com, informando o endereço do local bem como nome e telefone de contato, para que possamos estar agendando uma visita e fazer posterior cadastro do mesmo.

JMJ – O que preciso oferecer aos peregrinos que ficarem em minha casa?

Irmã Graça – Levando em consideração que os peregrinos já trazem na bagagem saco de dormir ou colchonete, você deverá oferecer um espaço coberto e seguro para que ele possa pernoitar e fazer sua higiene pessoal.

JMJ – Quanto à alimentação dos peregrinos, quem é o responsável por ela?

Irmã Graça – O peregrino inscrito na JMJ terá alimentação completa (café da manhã, almoço e jantar), oferecida pela própria organização da JMJ. Quando não for feita essa opção no ato da inscrição, a alimentação será de responsabilidade do próprio peregrino.

JMJ – Sou de um bairro, mas atuo em paróquia de outro bairro. Onde me cadastrar como família de acolhida?

Irmã Graça – Na paróquia mais próxima de sua residência.

JMJ – Minha paróquia não tem chuveiro, mas queremos hospedar. O que fazer?

Irmã Graça – A equipe de hospedagem paroquial poderá organizar casas vizinhas que ofereçam o espaço para higiene pessoal dos peregrinos.

JMJ – Quero acolher voluntários. Preciso oferecer alimentação diária?

Irmã Graça – A família deverá oferecer o café da manhã e o jantar, enquanto o COL-Rio oferecerá o almoço. Porém, nos finais de semana a alimentação completa fica sob a responsabilidade da família acolhedora.

JMJ – Por que acolher de 21 a 31 de julho de 2013, se a JMJ é de 23 a 28 de julho de 2013?

Irmã Graça – Porque alguns peregrinos chegam antes da JMJ e/ou saem depois, por conta da disponibilidade de voos.

JMJ – Posso escolher quem eu quero hospedar em minha casa?

Irmã Graça – A distribuição dos peregrinos será feita por regiões linguísticas, portanto, você receberá em sua casa o peregrino de sua região linguística.

JMJ – Preciso buscar o peregrino no aeroporto para levá-lo até minha casa?

Irmã Graça – O coordenador do Setor Hospedagem enviará as informações sobre a paróquia de sua acolhida, endereço, acesso, facilitando o peregrino sobre sua chegada e acolhida.

JMJ – Para ser família de acolhida eu preciso estar o dia inteiro em casa?

Irmã Graça – O peregrino utilizará o alojamento e casas apenas para o pernoite e higiene pessoal, ficando o mesmo, durante todo o dia, em função das programações da JMJ Rio2013.

JMJ – O alojamento estará disponível durante todo o dia?

Irmã Graça – O alojamento é exclusivo para pernoite, permanecendo fechado durante o dia (refere-se a escolas, clubes, casas de festa, ou outros tipos de hospedagem que não sejam em casas de família).

JMJ – O peregrino deixará seus pertences (malas, roupas, saco de dormir) no alojamento?

Irmã Graça – Sim. No entanto, a equipe de hospedagem não se responsabilizará por objetos de valor deixados no local, e aconselha que cada jovem faça uso de cadeados e leve objetos de valor consigo.

JMJ – Haverá um voluntário que fale o idioma do grupo de peregrinos no local de hospedagem?

Irmã Graça – Sim. Caberá à Coordenação de Hospedagem solicitar ao Setor Voluntariado da paróquia uma equipe devidamente preparada para auxiliar os peregrinos.

JMJ – Onde me cadastrar como família de acolhida?

Irmã Graça – Em breve no portal: www.rio2013pthospedagem.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Organizadores da JMJ Rio 2013 pedem oração por visita do Vaticano




A comissão organizadora da JMJ Rio 2013 convida toda juventude para estar em oração pela visita dos membros do Pontifício Conselho para os Leigos.
A sessão que trata dos assuntos dos jovens deste dicastério veio direto do Vaticano para ver o andamento dos preparativos da Jornada Mundial da Juventude que pretende reunir quatro milhões de pessoas de todas as partes do mundo num encontro com o Papa Bento XVI na capital fluminense.
“Vamos aos pés de Jesus Sacramentado interceder pela Jornada Mundial da Juventude Rio2013”, exalta a comissão da JMJ 2013.
O encontro será nesta quinta-feira, 1º de março, às 19h30, na Igreja de Sant’Ana, que está localizada na Praça Cardeal Leme, 11, no centro da cidade.
O Cardeal Stanislaw Rylko, presidente deste pontifício conselho chega ao Rio de Janeiro nesta segunda-feira, 27. Ele ficará na cidade durante cinco dias, participando de reuniões com os representantes do Comitê Organizador Local (COL) da JMJ Rio2013, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), além de um encontro com representantes de movimentos jovens e comunidades novas do Rio. Na programação, estão previstas visitas aos locais da cidade que poderão receber os eventos oficiais da JMJ Rio2013.
No dia 2 de março, às 11h, o Cardeal Rylko e o Arcebispo do Rio, Dom Orani João Tempesta, concederão uma entrevista coletiva sobre o balanço das atividades realizadas pela Comitiva do PCL durante a visita ao Rio. A coletiva será no edifício João Paulo II, na Glória.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Quaresma: Momento para descobrir que o amor é possível




Em poucos dias, na Quarta-feira de Cinzas, começaremos um período litúrgico importante da nossa fé católica: a Quaresma. O tempo da Quaresma, eminentemente penitencial, em preparação para a Páscoa, é o propício momento em que todos nós, fiéis batizados, somos convidados a intensificar a vida de oração, penitência e caridade, com realce especial ao jejum e à abstinência. Contudo, só se compreende a Quaresma através do olhar de um Deus que se encarna, morre e ressuscita por amor a cada um de nós. Isto mesmo, Deus mergulha na epopeia e tragédia da vida humana para nos resgatar das correntes do pecado e dar-nos a vida eterna.
A Quaresma está intimamente conectada com o desejo de felicidade e infinito, latentes em cada coração humano. Sem ela não se entende o ser cristão, sem ela não se entendem os mistérios da indigência e da grandeza humana. Constata-se por muitos espaços da vida humana um mar de tristezas e frustações. A depressão, segundo dizem, é o mal de nosso século. Nunca sentimos tanta falta de infinito, e nunca estivemos tão presos ao efêmero, ao passageiro, ao transitório, aquilo que não gera relações humanas, valorizando demasiadamente o virtual e nos esquecendo do real, da dor, das misérias, da pobreza, da violência e das misérias morais que relativizam o belo, o sagrado, gerando a cultura do descartável.
O que impede o coração humano de encontrar a felicidade? Muitas são as respostas, muitos estudos são apresentados diariamente nos meios de comunicação. Buscam-se explicações psicológicas, sociais, econômicas, políticas etc. Mas, são poucos os que chegam ao fundo do problema. A verdadeira e plena felicidade só será alcançada quando passarmos pela via quaresmal, que é o caminho de purificação e penitência que nos liberta, através da graça, dos grilhões do pecado.
O pecado é o maior obstáculo. Infelizmente, estamos imersos numa cultura que o comercializa. O mais triste é que buscando a felicidade, a humanidade parece afundar-se cada vez mais no lodo e morre sufocada pelo veneno do pecado, que destrói almas e sonhos. E é a própria sociedade que promove esse tipo de vida, se questiona dos porquês dessas realidades que contaminam o orbe sem se importar com as condições econômicas ou sociais das pessoas.
A maior alienação é a incapacidade de perceber o quanto o ser humano se quebra quando se entrega ao pecado. Existe uma desintegração espiritual que se manifesta na sociedade e prolifera em estruturas. Ele nasce pessoal e, em proporção com a matéria, gravidade e circunstâncias, gera o mal social.
O reconhecimento de nossas misérias e fraquezas diárias é o primeiro passo para o encontro profundo consigo mesmo e com Deus. O pecado é a desintegração da nossa natureza e aliena nossa vida da realidade eterna a qual todos nós somos chamados. A penitência não é masoquismo, mas reconhecer de modo concreto e visível a nossa indigência e necessidade. Ela nos coloca no caminho do perdão, que é o resgate da unidade perdida pelo mal.
O salmo penitencial 51(50) exclama com beleza poética o drama do pecado e a recuperação do Rei Davi. A primeira coisa que o pecado ataca é nossa consciência, ou seja, a capacidade de perceber e distinguir o mal e o bem. O Rei Davi possui a graça de ter um grande amigo, o profeta Natã. Este, sem medo das consequências e guiado pela força do Espirito Santo, acusa Davi do seu pecado. A paz e a felicidade voltam ao rosto do rei de Israel apenas quando ele reconhece e deseja reparar o mal cometido.
O pecado nos coloca no sono mais profundo e nos impede de encontrar a paz que deve reinar em nossas vidas. Só através da paz, que nasce do encontro arrependido com Cristo misericordioso, poderemos encontrar a felicidade. Os verdadeiros amigos são aqueles que nos ajudam a despertar e a ver a realidade em toda sua complexidade, como fez Natã com Davi. Eles são capazes disso não porque sabem mais ou são mais capacitados, mas, sim, porque nos amam. Como está escrito em Eclesiástico: “O amigo fiel é poderoso refúgio, quem o descobriu, descobriu um tesouro”. (Eclo 6,14).
A crise de felicidade está proporcionalmente relacionada com uma crise de amizade. Poucos encontram verdadeiros amigos. Muitas vezes não sabemos ser bons amigos. Neste clima de preparação para a JMJ RJ, conclamo ao jovem: desperte através do encontro com Cristo, o dom da amizade. Não se pode ser cristão sozinho. Jovem evangeliza jovem. Com razão impacta, positivamente, milhões de pessoas a participação nas Jornadas Mundiais da Juventude, no encontro com Cristo juntamente com o Santo Padre o Papa. Nessas jornadas, os jovens descobrem que a amizade já existe entre eles, pois todos possuem em comum o grande amigo Jesus Cristo, aquele que nunca nos abandona.
Dizem que hoje as pessoas não querem se relacionar, desejam apenas se “conectar”, pois é mais fácil colocar o outro em “off”. O medo em criar laços sólidos brota, em muitos casos, da incerteza do amor. O pecado apaga de nossas vidas a certeza de que é possível amar. A fragmentação de nosso ser, oriunda do pecado, nos impede de confiar no outro.
Assim, neste importante tempo de Quaresma despertemos novamente o desejo de felicidade. Purifiquemos nossas almas do pecado que obstaculiza o encontro com Cristo, amigo capaz de nos guiar com passos seguros. Como o Rei Davi, peçamos a Deus piedade por nossos pecados. Não tenhamos medo de reconhecer nossas transgressões.
Deus conhece nosso ser, ama a verdade e nos ensina a sabedoria. Ele nos dá a felicidade, o júbilo e nos purifica de todas as iniquidades, fazendo-nos “mais brancos do que a neve”. Sobretudo, Deus cria em cada um de nós um coração novo, através da penitência e do perdão sacramental. A via quaresmal bem vivida despertará em nós um espirito firme e devolverá o júbilo da salvação. (cf. Sal 51).
Que nesta Quaresma tenhamos a coragem de fazer uma passagem profunda de purificação do pecado para a graça, no caminho bonito do itinerário do seguimento e discipulado do Redentor!

Dom Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)


Fonte: CNBB