segunda-feira, 7 de novembro de 2011

A sociedade dos perfeitos




Aqueles que exigem perfeição dos outros exigem algo que também não têm


Na sociedade dos perfeitos, ser imperfeito está fora de moda. Ao ligarmos a televisão ou acessarmos a internet, encontramos protótipos de pessoas perfeitas. Seres humanos imperfeitos maquiados com aparência sagrada. Uma forte tendência dos tempos atuais é a exigência de que o outro seja perfeito. Esta marca de nossa época vem disfarçada com o nome de “falta de paciência”: “Não tenho paciência com as pessoas de minha família”, “Sou extremamente impaciente com meus colegas de trabalho”, “Meus pais não são do jeito que eu quero”... Frases como estas são mais comuns do que ousamos imaginar.
Exige-se a perfeição do outro a qualquer custo. Pessoas que se consideram perfeitas exigem que seus irmãos e irmãs também o sejam. Caso isso não ocorra, as brigas e decepções acontecem em níveis agressivos.
No tempo de Jesus não era diferente. Os fariseus, escribas e mestres da Lei, responsáveis pelo cuidado do templo e, consequentemente, pela formação religiosa do povo, consideravam-se perfeitos. Julgavam ter atingido um grau de plenitude tal que se achavam no direito de catalogar as impurezas do povo de acordo com normas e critérios religiosos que oprimiam o ser humano.
Jesus percebeu a hipocrisia contida nos gestos e atitudes destes pretensos perfeitos. Estes exigiam que os fiéis carregassem pesados fardos e cumprissem normas que beneficiavam apenas a eles próprios.
Aqueles que exigem perfeição dos outros se esquecem de que também são imperfeitos. Muitas vezes exigem algo que nem eles próprios conseguem cumprir. Ocupam, inconscientemente, o lugar de Deus. Tornam-se juízes: julgam, condenam e decretam a sentença. O outro, raras vezes, tem a chance de defesa, tendo em vista que, na maioria dos casos, o julgamento vem embrulhado em presentes perfeitos.
Quando falamos de imperfeição entramos em contato com nossas próprias imperfeições. Esbarramos em nossos próprios limites e falhas. Uma atitude farisaica descarta a imperfeição e se reconhece canonizado. Os grandes santos nunca se consideraram santos em vida. O que os tornou santos foi a humildade com que se revestiram. Reconciliados com sua própria humanidade, estes homens e mulheres que hoje são venerados nos altares, transformaram as imperfeições em degraus para a santidade. No pecado que estava impresso em seu DNA humano, eles se revestiram da força de Cristo. Viram no Mestre o caminho para a humildade, o serviço e a doação ao próximo.
Respeitar o processo de caminhada de cada pessoa é fundamental para quem deseja construir hoje seu caminho de santidade. Quem não aprendeu a respeitar as imperfeições do outro, dificilmente irá conhecer o caminho da humildade que o guiará à paz interior.
Jesus compreendia as imperfeições humanas. Ele sabia que a natureza que nos reveste precisava ser purificada não por rituais de exclusão, mas sim por rituais de inclusão. Cristo incluía no Seu amor os excluídos do amor dos outros.
Somente quem compreendeu que tão imperfeito quanto o outro é ele mesmo, descobriu o caminho para o amor e a santidade manifestada no cotidiano dos sentimentos.

Pe. Flávio Sobreiro
Vigário da Paróquia Nossa Senhora do Carmo, Cambuí (MG)
Padre da Arquidiocese de Pouso Alegre(MG)
Bacharel em Filosofia pela PUCCAMP

Fonte: cancaonova.com

Símbolos da JMJ vão onde os jovens sofrem



O Beato João Paulo II entregou a Cruz e o Ícone de Nossa Senhora aos jovens para que eles os levem ao mundo todo anunciando o Evangelho. No Brasil, multidões têm ido ao encontro dos dois Símbolos da Jornada Mundial da Juventude nas catedrais, nos colégios e nas ruas. No trajeto que começou no dia 18 de setembro de 2011, em São Paulo, e que prosseguirá pelo Brasil por quase dois anos, até a JMJ Rio2013, a Cruz e o Ícone também visitaram locais de sofrimento e de esperança como presídios, a Cracolândia e casas de recuperação de dependentes químicos. Em cada um desses locais, a presença da Cruz foi a certeza de que Cristo caminha junto da juventude que sofre.

Segundo o Catecismo, Cristo deu um novo sentido ao sofrimento com sua morte na cruz para “configurar-nos com Ele e unir-nos à sua paixão redentora." (Catecismo da Igreja Católica, 1505). Esses locais de peregrinação, ao serem recordados, reafirmam em nós a necessidade de buscar um mundo com maior solidariedade e fraternidade em especial para a juventude, grande vitima da violência no Brasil.

Na Favela e na Cracolândia
Em uma procissão com a oração do rosário, jovens percorreram em 19 de setembro, um dia após a chegada oficial da Cruz e do Ícone no Brasil, as ruas do centro de São Paulo.
Durante a procissão, a Cruz Peregrina entrou na Favela do Moinho, na capital paulista. Os jovens tiveram que passar debaixo de uma ponte e atravessar a linha férrea com a Cruz para entrar na comunidade carente. Enquanto passavam entre os inúmeros barracos da favela, com velas acesas, a juventude entoava o hino da JMJ de 2000, “Emmanuel”.
“Esta música expressa o que estamos vivendo aqui neste momento. É o Emanuel, o Deus Conosco que vem ao encontro dos mais sofredores”, afirmou, emocionado, dom Tarcísio Scaramussa, bispo auxiliar de São Paulo e referencial do Setor Juventude Arquidiocesano, que acompanhou toda a caminhada. Dom Tarcísio convidou os moradores da favela a se aproximarem e tocarem a Cruz.
Depois de deixar a Comunidade do Moinho, a Cruz seguiu para uma das regiões mais precárias da cidade, a chamada Cracolândia. O símbolo da JMJ passou por uma rua tomada por centenas de usuários de crack espalhados pelas calçadas. Enquanto um dos jovens conduzia um momento de oração, ouviu-se do meio dos usuários alguém que disse: “Jesus morreu na cruz por mim”. Apesar de visivelmente alterados pelo efeito da droga, alguns acompanharam a oração do quinto mistério doloroso do rosário, chegando a recitar a “Ave-Maria”. Em seguida, abriram espaço para que a Cruz continuasse sua caminhada.
O vigário episcopal para a Pastoral do Povo da Rua da arquidiocese de São Paulo, padre Julio Lancellotti, afirmou que a peregrinação da Cruz pelas ruas da cidade de São Paulo deve ser um sinal de compromisso da Igreja para com os que sofrem. “É a Cruz indo ao encontro dos crucificados, é a vida indo ao encontro da morte. É o amor indo ao encontro da dor”, disse.

Lixão
Na cidade de Itaquaquecetuba, diocese de Mogi das Cruzes, os Símbolos foram levados a um aterro sanitário, ao redor do qual vivem várias famílias em situação de grande pobreza.

Dores juvenis
No dia 26 de setembro, durante a peregrinação dos símbolos da Jornada pela cidade de Cubatão, que faz parte da diocese de Santos, os jovens apresentaram uma peça teatral, em que foram mostradas algumas das cruzes que a juventude carrega: violência, fome, desemprego, drogas, intolerância.

Comunidade terapêutica
A Cruz e o Ícone foram levados no dia 7 de outubro em carreata para uma missa até a comunidade terapêutica Mãe da Vida, em Itapeva (sul do estado de São Paulo), que cuida de homens e mulheres em processo de recuperação de dependência química. O padre, durante a homilia, lembrou aos presentes que somente com a ajuda de Deus é que conseguimos suportar nossas cruzes. A Cruz e o Ícone de Maria, juntamente com visitantes e religiosos proporcionaram aos internos momentos inesquecíveis de muita alegria e um auxílio valioso nesse processo que estão vivendo.

“Estive preso e vieste me visitar” Mt 25, 36
Em 21 de outubro, duas penitenciárias em Serra Azul, na arquidiocese de Ribeirão Preto (norte de São Paulo) receberam a Cruz e o Ícone de Nossa Senhora. Em um trabalho conjunto entre a Pastoral Carcerária e o Setor Juventude, os símbolos da JMJ e o Evangelho de Cristo chegaram aos detentos, como forma de garantir que os direitos humanos e dignidade humana sejam garantidos no sistema prisional. O Complexo de Detenção Provisória de Suzano, na diocese de Mogi das Cruzes, também já o havia recebido em 25 de setembro.
No dia 28 de outubro, os internos da Fundação Casa Dom Hélder Câmara, em Franca, também receberam a visita dos Símbolos da JMJ. Durante a visita, eles rezaram, carregaram a Cruz e o Ícone e apresentaram uma peça teatral sobre a luta contra as drogas e a violência.
“Quando eles não estiverem mais na Fundação, queremos encontrá-los na Jornada no Rio de Janeiro”, comentou o padre Ovídio de Andrade, coordenador da Pastoral do Menor.