terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Redescobrir a oração





A oração é um exercício fundamental na busca pela qualidade de vida. Nas indicações que não podem faltar, especialmente para a vida cristã, estão a prática e o cultivo disciplinado da oração. É um exercício que tem força incomparável em relação às diversas abordagens de autoajuda, como livros e DVDs, muito comuns na atualidade.
A crise existencial contemporânea, em particular na cultura ocidental, precisa redescobrir o caminho da oração para uma vida de qualidade. Equivocado é o entendimento que pensa a oração como prática exclusiva de devotos. A oração guarda uma dimensão essencial da vida cristã. Cultivar essa prática é um segredo fundamental para reconquistar a inteireza da própria vida e fecundar o sentido que a sustenta.
É muito oportuno incluir entre as diversificadas opiniões, junto aos variados assuntos discutidos cotidianamente, o que significa e o que se pode alcançar pelo caminho da oração. Perdê-la como força e não adotá-la como prática diária é abrir mão de uma alavanca com força para mover mundos. A fé cristã, por meio da teologia, tem por tradição abordar a importância da oração ao analisar a sua estrutura fundamental, seus elementos constitutivos, suas formas e os modos de sua experiência. Trata-se de uma importante ciência e de uma prática rica para fecundar a fé.
A oração tem propriedades para qualificar a vida pessoal, familiar, social e comunitária. Muitos podem desconhecer, mas a oração pode ser um laço irrenunciável com o compromisso ético. É prática dos devotos, mas também um estímulo à cidadania. Ao contrário de ser fuga das dificuldades, é clarividência e sabedoria, tão necessários no enfrentamento dos problemas. Na verdade, a oração faz brotar uma fonte interior de decisões, baseadas em valores com força qualitativa.
A oração como prática e como inquestionável demanda, no entanto, passa, por razões socioculturais, por uma crise. Aliás, uma crise numa cultura ocidental que nunca foi radicalmente orante. O secularismo e a mentalidade racionalista se confrontam com aspectos importantes da vida oracional, como a intercessão e a contemplação. Diante desse cenário, é importante sublinhar: paga-se um preço muito alto quando se configura o caminho existencial distante da dimensão transcendente. O distanciamento, o desconhecimento e a tendência de banir o divino como referencial produzem vazios que atingem frontalmente a existência.
É longo o caminho para acertar a compreensão e fazer com que todos percebam o horizonte rico e indispensável da oração. Faz falta a clareza de que existem situações e problemas que a política, a ciência e a técnica não podem oferecer soluções, como o sentido da vida e a experiência de uma felicidade duradoura. A oração é caminho singular. É, pois, indispensável aprender a orar e cultivar a disciplina diária da oração. Tratar-se de um caminhar em direção às raízes e ao essencial. Nesse caminho está um remédio indispensável para o mundo atual, que proporciona mais fraternidade e experiências de solidariedade.
A lógica dominante da sociedade contemporânea está na contramão dessa busca. Os mecanismos que regem o consumismo e a autossuficiência humana provocam mortes. Sozinho, o progresso tecnológico, tão necessário e admirável, produz ambiguidades fatais e inúmeras contradições. Orar desperta uma consciência própria de autenticidade. Impulsiona à experiência humilde do próprio limite e inspira a conversão. É recomendação cristã determinante dos rumos da vida e de sua qualidade. A Igreja Católica tem verdadeiros tesouros, na forma de tratados, de estudos, de reflexões, e de indicações para o cultivo da oração, que remetem à origem do cristianismo, quando os próprios discípulos pediram a Jesus: “Ensina-nos a orar”. É uma tarefa missionária essencial na fé, uma aprendizagem necessária, um cultivo para novas respostas na qualificação pessoal e do tecido cultural sustentador da vida em sociedade.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte - MG

Fonte: CNBB

Campanha da Fraternidade: Saúde e Salvação para todos



Costumamos dizer que “a saúde é tudo”. Em várias línguas, salvação e saúde são a mesma coisa. Aqui está uma sabedoria de vida mais profunda do que imaginamos.
A saúde é um bem fundamental. Enquanto temos saúde quase nem percebemos. Só quando aparecem os problemas as coisas mudam. Mas às vezes vamos levando, até à hora em que não há mais jeito. Na juventude ligamos menos para a saúde. Mais tarde a gente acaba pagando por este erro. Pois é sábio aquele provérbio popular: prevenir é melhor do que remediar!


Mas o que é ter saúde?

Saúde não é simples ausência de doenças. Também não quer dizer não ter limitações, pois estas fazem parte de nossa vida. Ela é sempre relativa, isto é, está relacionada com a fase de vida em que nos encontramos. Cada fase tem suas potencialidades e suas limitações. A Organização Mundial da Saúde define a saúde humana basicamente como bem estar.
Entretanto há condições para se estar bem. A saúde física é importante, mas não é tudo. Além desta precisamos de boas condições mentais, espirituais, sociais e ambientais. São dimensões básicas em que nossa vida se realiza. O vigor mental e espiritual depende muito do indivíduo. Mas a esfera social e ambiental interfere também radicalmente em nossas condições individuais de saúde.
Percebemos então que a saúde é um bem individual e social. Ou seja, que ela depende do ar que respiramos; e este ar pode estar poluído por nós mesmos. E aí vem a questão dos esgotos nos rios, dos agrotóxicos nos alimentos. Há costumes atuais e mesmo instrumentos que podem ser prejudiciais à saúde. Até o uso frequente do celular pode estar relacionado com o câncer. E a mentalidade violenta e competitiva que estressa a nossa vida?
Em meio a tudo isso, se constrói a saúde pública como um bem que requer responsabilidade. Por ela cuidamos para que a saúde seja um bem de todos. Já existem boas iniciativas políticas e governamentais neste sentido. Mas esta consciência ética precisa crescer. A Campanha da Fraternidade de 2012 é um grande passo nesse caminho. Pela fé cristã, nossa vida e a vida dos outros estão entrelaçadas sob todos os aspectos. Não há salvação sem o amor ao próximo. A saúde é um ponto do encontro vital com a salvação.



Matéria publicada na Revista de Aparecida, edição março 2012.