quinta-feira, 12 de abril de 2012

Catequese de Bento XVI - 11/04/2012





Depois das celebrações da Páscoa, o nosso encontro de hoje é invadido por uma alegria espiritual, também se o céu está acinzentado, levamos no coração a alegria da Páscoa, a certeza da Ressurreição de Cristo que definitivamente triunfou sobre a morte. Antes de tudo, renovo a cada um de vocês uma cordial saudação pascal: em todas as casas e em todos os corações ressoa o anúncio alegre da Ressurreição de Cristo, que faz renascer a esperança.
Nesta catequese gostaria de mostrar a transformação que a Páscoa de Jesus provocou nos seus discípulos. Partamos da noite do dia da Ressurreição. Os discípulos estão trancados em casa por medo dos judeus (Jo 20,19). O temor aperta o coração e impede de andar ao encontro dos outros, de encontro à vida. O mestre não está mais. A recordação da Paixão alimenta a incerteza. Mas Jesus tem no coração os seus e está para cumprir a promessa que havia feito durante a Última Ceia: "Não vos deixarei órfãos, mas virei até vocês" (Jo 20,19) e isto diz também a nós, também nos tempos difíceis: "não vos deixarei órfãos".
Esta situação de angústia dos discípulos muda radicalmente com a chegada de Jesus. Ele entra a portas fechadas, está em meio a eles e doa a paz que sustenta: "Paz a vós" (Jo 20,19b). É uma saudação comum que, todavia, ora conquista um significado novo, porque opera uma mudança interior; é uma saudação pascal, que faz superar todo o medo dos discípulos. A paz que Jesus traz é o dom de salvação que Ele havia prometido durante os seus discursos de despedida: "Vos deixo a paz, vos dou a paz. (Jo 14,27). Neste dia da Ressurreição, Ele a doa em plenitude e ela se torna para a comunidade fonte de alegria, certeza de vitória, segurança no apoiar-se em Deus. "Não se turbe o vosso coração, e não tenhais medo" (Jo 14,1) diz também a nós.
Depois desta saudação, Jesus mostra aos discípulos as feridas das mãos e do lado (Jo 20,20), sinais daquilo que aconteceu e jamais será apagado: a sua humanidade gloriosa fica 'ferida'. Este gesto tem o objetivo de confirmar a nova realidade da Ressurreição: O Cristo que agora está entre os seus é uma pessoa real, o mesmo Jesus que três dias antes foi pregado na cruz.
E é assim que, na luz fulgurante da Páscoa, no encontro com o Ressuscitado, os discípulos colhem o sentido salvífico da sua paixão e morte. Então, da tristeza e do medo passam à alegria plena. A tristeza e as feridas se tornam fonte de alegria. A alegria que nasce no coração deles deriva do 'ver o Senhor' (Jo 20,20). Ele diz-lhes de novo: "Paz esteja com vocês" (v.21). É evidente agora que não é somente uma saudação. É um dom, o dom que o Ressuscitado quer fazer aos seus amigos, e é ao mesmo tempo uma entrega: esta paz, conquistada por Cristo com seu sangue, é para eles, mas também para todos, e os discípulos deveram levá-la em todo o mundo.
De fato, Ele acrescenta: "Como o Pai enviou-me, também eu vos envio". Jesus ressuscitado retornou entre os seus discípulos para enviá-los. Ele completou a sua obra no mundo, e agora lhes cabe semear nos corações a fé, para que o Pai, conhecido e amado, recolha todos os seus filhos da dispersão. Mas Jesus sabe que nos seus existe ainda muito temor, sempre. Por isso, cumpre o gesto de soprar sobre eles e os regenera no seu Espírito (Jo 20,22); este gesto é o sinal da nova criação.
Com o dom do Espírito Santo que provém de Cristo ressuscitado tem início, de fato, um mundo novo. Com o envio em missão dos discípulos, se inaugura o caminho no mundo do povo da nova aliança, povo que crê Nele e na sua obra de salvação, povo que testemunha a verdade da ressurreição. Esta novidade de uma vida que não morre, trazida pela Páscoa, é difundida por toda a parte, para que os espinhos do pecado que ferem o coração do homem, dêem lugar às sementes da graça, da presença de Deus e do seu amor que vence o pecado e a morte.
Queridos amigos, também hoje o Ressuscitado entra nas nossas casas e em nossos corações, apesar de às vezes, as portas estarem fechadas. Entra doando alegria e paz, vida e esperança, dons dos quais temos necessidade para o nosso renascimento humano e espiritual. Somente Ele pode retirar aquelas pedras de sepulcro que o homem frequentemente coloca sobre os próprios sentimentos, sobre as próprias relações, sobre os próprios comportamentos, pedras que estabelecem a morte: divisões, inimizades, rancores, invejas, divergências, indiferenças.
Somente Ele, o Vivente, pode dar sentido à existência e retoma o caminho a quem é cansado e triste, desesperançoso. É o que experimentaram os dois discípulos que no dia de Páscoa estavam em caminho de Jerusalém a Emaús (Luc 24,13-35). Eles falam de Jesus, mas a face deles está triste (v. 17) exprime as esperanças frustradas, a incerteza e a melancolia. Tinham deixado suas cidades para seguir Jesus com seus amigos, e tinham descoberto uma nova realidade, na qual o perdão e o amor não eram mais somente palavras, mas tocavam concretamente a existência. Jesus de Nazaré tinha tornado tudo novo, tinha transformado a vida deles. Mas agora, Ele estava morto e tudo parecia ter chegado ao fim.
De repente, todavia, não são mais dois, mas três pessoas que caminham. Jesus se aproxima dos dois discípulos e caminha com eles, mas eles são incapazes de reconhecê-lo. Claro, tinham ouvido falar sobre a ressurreição e de fato, dizem: "Algumas mulheres, das nossas vieram a dizer-nos de terem tido uma visão de anjos, os quais afirmam que Ele é vivo (v 22-23).
Entretanto, tudo isso não foi suficiente para convencê-los, porque eles não haviam visto" (v.24). Então Jesus, com paciência, começando por Moisés e por todos os profetas, explicou-lhes em todas as Escrituras, aquilo que era referente a Ele (v.27). O Ressuscitado explica aos discípulos a Sagrada Escritura, oferecendo a chave de leitura fundamental dela, isto é, Ele mesmo e o seu Mistério Pascal: a Ele as Escrituras rendem testemunho (Jo 5,39-47). O sentido de tudo, da Lei, dos Profetas e dos Salmos, improvisadamente se abre e se torna claro aos olhos deles. Jesus tinha aberto-lhes a mente e a inteligência diante das Escrituras (Luc 24,35).
Logo em seguida, chegaram ao vilarejo, provavelmente à casa de um dos dois. O forasteiro viajante faz como se quisesse andar mais longe (v.28). Também nós sempre de novo devemos dizer ao Senhor com ardor: "Fique conosco". Quando se pôs à mesa com eles, tomou o pão, recitou a benção, o partiu e o deu a eles. (v.30). A repetição dos gestos realizados por Jesus na última Ceia é evidente. "Então se abriram os olhos deles e o reconheceram" (v.31).
A presença de Jesus, antes com as palavras, depois com o gesto do partir o pão, torna possível aos discípulos de reconhecê-lo, e eles podem sentir em modo novo quanto havia já sentido caminhando com Ele: "Não ardia o nosso coração enquanto ele conversava conosco ao longo do caminho, quando nos explicava as escrituras? (v.32). Este episódio nos indica dois lugares privilegiados onde podemos encontrar o Ressuscitado que transforma a nossa vida: a escuta da palavra, em comunhão com Cristo, e o partir o Pão; 'dois lugares' profundamente unidos entre eles porque "Palavra e Eucaristia se pertencem tão intimamente ao ponto de não poderem ser compreendidas uma sem a outra: A Palavra de Deus se faz carne sacramental no evento eucarístico" (Exort. Ap. Pós-sinodal Verbum Domini, 54-55).
Depois deste encontro, os dois discípulos partiram para Jerusalém, onde encontraram reunidos os onze e os outros que estavam com eles, os quais diziam: "Verdadeiramente o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!" (v 33-34). Em Jerusalém eles escutavam a notícia da ressurreição de Jesus, e por sua vez, narraram a própria experiência, inflamada de amor pelo Ressuscitado, que lhes abriu o coração em uma alegria que não se podia conter. Foram, como diz São Pedro, regenerados em uma experiência viva da ressurreição de Cristo dos mortos (Pt 1,3). Renasce neles o entusiasmo da fé, o amor pela comunidade, a necessidade de comunicar a boa notícia. O Mestre ressuscitou e com Ele toda a vida ressurge; testemunhar este evento se torna para eles uma enorme necessidade.
Caros amigos, o tempo pascal seja para todos nós uma ocasião propícia para redescobrir com alegria e entusiasmo as fontes da fé, a presença do Ressuscitado entre nós. Trata-se de cumprir o mesmo itinerário que Jesus fez os discípulos de Emaús realizarem, através da redescoberta da Palavra de Deus e da Eucaristia, isto é, andar com o Senhor e deixar abrir os olhos ao verdadeiro sentido da Escritura e à sua presença no partir o pão. O cume deste caminho, assim como hoje, é a Comunhão Eucarística: na Comunhão Jesus nos nutre com o seu Corpo e Seu Sangue, para ser presente na nossa vida, para tornar-nos novos, animados pela potência do Espírito Santo.
Em conclusão, a experiência dos discípulos nos convida a refletir sobre o sentido da Páscoa para nós. Deixemo-nos encontrar por Jesus ressuscitado! Ele, vivo e verdadeiro, é sempre presente em meio a nós; caminha conosco para guiar a nossa vida, para abrir os nossos olhos. Temos confiança no Ressuscitado que tem o poder de dar a vida: a liberta do medo, dá a ela firme esperança, a torna animada por aquilo que doa sentido à existência, o amor de Deus. Obrigado!